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Subperonismo ?

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Quando Cristina Kirchner foi eleita, com 47% dos votos, para suceder a Nestor Kirchner na presidência da Argentina, todos sabiam que ela seria a continuação do governo do marido. E também sabiam que esse tipo de laranja não seria novidade na presidência do vizinho país. Quando Perón estava no exílio, nomeou seu representante pessoal para ser candidato a presidente, o dentista Hector Campora. Eu era correspondente lá, na época, e o slogan mais forte da campanha presidencial era: Campora Presidente, Perón al Poder. E foi o que aconteceu. Campora assumiu, Perón voltou, Campora e seu vice renunciaram e o presidente da Câmara convocou eleições. Perón ganhou e levou como vice sua mulher, Isabelita Perón. Perón morreu e Isabelita virou presidente.

Recordei essa história para ajudar a entender o termo usado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para identificar o que ele julga ser perigoso para a democracia: “Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições.” Fiquei a imaginar se na cabeça do sociólogo não estaria cintilando o slogan Dilma Presidente, Lula no Poder. Não como denúncia, mas como constatação, porque nem para Lula nem para Dilma esse plágio da história argentina seria inconveniente. Muito pelo contrário. Tudo que Lula quer é vencer o desafio de transferir para Dilma seus votos e sua popularidade gigantescos.

O peronista Nestor Kirchner conseguiu eleger a primeira mulher presidente da Argentina. Lula quer ser o autor do mesmo feito no Brasil. O sociólogo FHC percebeu a semelhança do apoio da rede sindical, da maioria de partidos políticos unidos por um objetivo de poder, de forças empresariais movidas por interesses econômicos e dos militares, com ojeriza de se meter e ter que carregar o ônus depois. FHC deve ter percebido que seu PSDB continua dilacerado por vaidades internas e carece de um catalisador como Lula. Nisso, o torneiro-mecânico pode se vangloriar de ser melhor que o sociólogo.

Ao artigo de Fernando Henrique, publicado no dia 1º, o presidente só reagiu no último fim-de-semana. E o fez como de costume: em vez de responder às críticas de FHC, tratou de desacreditar o autor da crítica. “Compreendo o ódio, porque um intelectual ficar assistindo um operário que só tem o quarto ano primário ganhar tudo que ele queria e não ganhou.” Pode até ser, mas o presidente não conseguiu explicar a teia que vai armando para fazer a sucessora, como sucedâneo para uma desgastante mudança na Constituição para disputar o terceiro mandato.

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