O Ministro da Educação pediu desculpas por ter dito, em entrevista à Veja, que o brasileiro no exterior comporta-se como um canibal, roubando coisas dos hotéis e até assento salva-vidas do avião. Pediu desculpas “a quem tiver se sentido ofendido” – quer dizer, aos que fazem isso. Se a moda pega, vou ter que pedir desculpas àquela senhora que antes de desembarcar em Brasília, colocou a coberta da TAP na sua sacola. Terei que pedir desculpas para a brasileira que em Lisboa atrasou o voo para Roma, fazendo gritaria, porque queria guardar a bagagem dela na classe executiva, embora viajando na econômica. Vou ter que me desculpar aos brasileiros barulhentos que perturbavam o sossego do restaurante da Galleria Vittorio Emanuele, em Milão, para mostrar que lá estavam, e me envergonhei deles.
Quando saía do hotel em Punta del Este e o funcionário me fez abrir a mala para uma inspeção, fiquei revoltado, mas ele explicou que brasileiros levam toalhas, lençóis, luminárias e até abajur. Fiquei envergonhado de meus conterrâneos, mas, se tiver que repetir o ato do ministro, devo pedir desculpas a esses ladrões de hotéis. Vou pedir desculpas ao meu amigo que levou um pito de um porteiro de prédio, depois de atravessar fora da faixa de pedestre uma avenida de Santiago do Chile. Chamei meu amigo de incivilizado e agora vou pedir desculpas. Peço desculpas aos brasileiros que íam comendo sanduíche e jogando papel no lindo piso da rua Augusta, na baixa lisboeta. Eu os critiquei em pensamento.
Já vi chineses cuspindo no corredor do avião, entre Hong-Kong e Beijing; egípcio acendendo fogareiro dentro do avião, sobre o Saara; americano agindo como bárbaro em Cancún; japonês enlouquecido em Honolulu; argentino fazendo algazarra em Florianópolis. Mas esses não me envergonham. Quando sou acordado à noite por brasileiros aos gritos no corredor do hotel em Viena, ou quando vejo meus conterrâneos pulando roleta no metrô em Paris, aí eu me envergonho. Será que devo pedir desculpas a quem me provoca vergonha? Não seria melhor fazer como o Ministro Vélez Rodríguez na entrevista, e sugerir que a educação talvez possa recuperá-los para a civilização?
Eu não diria “canibais”, mas selvagens. O excelente Paulo Pestana, do Correio Braziliense, usou o “canibais” na sua página de domingo e sugeriu que o Ministro fosse além, falasse sobre furtos em restaurante, xixi na calçada, barulho, grosseria com garçom, cigarro no chão; e recordou o refrão chulo que “gritavam os canibais” para uma russa na Copa do Mundo. Quando postei o assunto no twitter, choveram testemunhos dessa incivilidade e comportamento anti-social no exterior. Então o Ministro não está sozinho nessa constatação. Que não atinge a maioria, mas ensejou o pedido de desculpas porque um advogado pediu no Supremo uma manifestação do Ministro. Talvez o causídico não viaje e não perceba o que nos envergonha. Ou quem sabe seja um dos que se sintam ofendidos.