Quando o Império Romano entrou em decadência, centuriões a serviço do Senado e do povo romano dividiam o butim, confundindo o público e o privado; os políticos se locupletavam e a corrupção corria desenfreada. Aproveitando-se da decadência, hordas de bárbaros vindos do norte saqueavam as cidades e matavam quem se opusesse. No Brasil em decadência moral e cidadã, políticos, empreiteiros, servidores públicos de todos os calibres, níveis e poderes, entregaram-se à corrupção, como aparece todos os dias no noticiário. Por sua vez, hordas de bárbaros saqueiam cidades menores, periferias e cidades maiores. Explodem caixas eletrônicos, fazem reféns, aterrorizam e matam. A lei impede que as pessoas se armem para defender suas famílias, mas é incapaz de tirar as armas dos bandidos. Assaltantes de fuzis ou facas atiram em carros-fortes ou roubam bicicletas ainda que tenham que esfaquear a vítima até a morte. Fora das cidades, no meio rural, invadem e incendeiam fazendas, destroem plantações, roubam gado e agora até furtam o sangue das árvores: no interior de São Paulo, o maior produtor de borracha natural do país, bandidos roubam o látex das seringueiras na véspera do recolhimento do produto.
Às vezes fico pensando se a maioria dos brasileiros fora-da-lei ou se a maioria ainda é composta de vítimas desses bandidos de todos os naipes, armados ou de canivetes, facas, fuzis, gravatas, dinheiro ou cérebro imoral, caráter mau, inatamente corrompido. É importante esse balanço, porque dele depende de, pelas urnas, renovarmos o país ou testemunharmos, como derrotados, a ruína.
Agora mesmo temos dois ex-presidentes, eleitos pelo voto da maioria, respondendo a inquéritos da polícia e do ministério público. E dois presidentes de poder, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, também investigados pela polícia. E uma presidente no mínimo mudamente neutra ante tudo isso, quando o que era de se esperar seria um apoio aberto, maciço, claro, incisivo às investigações, para demonstrar de que lado está: se das instituições que aplicam a lei ou da tentativa de iludir e desacreditar a polícia judiciária e a Justiça. Fica inerte, perplexa, ante o índice de aprovação de meros 7%. E pensar que tudo começou com o ato desabrido de um dos condenados, o então deputado Roberto Jefferson, que caiu em si ao perceber que já havíamos passado dos limites – se é que há teto para a imoralidade e a corrupção.
A agravante supremo é que, somando tudo, percebe-se um imenso crime de lesa-pátria, porque se usou, sem peso na consciência, dinheiro umedecido pelo suor de todos, que trabalham cinco meses por ano só para pagar tributos. E que não vêem esses tributos na educação, na saúde, na segurança pública, no saneamento básico, nas estradas. Os bandidos sem-mandato, por sua vez, se sentem incentivados pelos exemplos que vêm de cima e pelas leis sem eficiência. Os governos, com medo das consequências, desarmam os cidadãos mas não os bandidos que nos assaltam nas cidades. E os legisladores, “politicamente corretos”, fazem uma legislação penal para facilitar a vida de quem assaltou o dinheiro do público. “Prisão domiciliar”, ora bolas! E como todos são iguais perante a lei, a legislação que favorece os corruptos também favorece os outros ladrões, assaltantes, homicidas, ainda que sejam os mais cruéis, principalmente os que não tiverem 18 anos. A nova Roma, saqueada por cima e por baixo, vai em franca decadência, assediada por bárbaros de todas as tribos.