No Brasil os acontecimentos conseguem andar mais rápido que a nossa capacidade de compreendê-los ou mesmo perceber seus significados. Em plena reunião de 20 países maiores do mundo, agora aparecem prisões preventivas de gente que planejava eliminar Lula e Alkimin e prender ou eliminar Alexandre de Moraes, conforme registra inquérito da Polícia Federal. Entre esses, um general da reserva, oficiais superiores da ativa e um agente policial federal. Imagino o que hão de relatar os jornalistas que vieram para cobrir o G-20 e se deparam com isso, depois do ataque pirotécnico ao Supremo, seguido da primeira-dama insultando com termo vulgar um integrante do futuro governo dos Estados Unidos. Aliás, as prisões de militares, revelando planejamento de golpe, também serviram para dar uma rápida guinada nas consequências da intervenção da primeira-dama que, por sua vez, havia desviado atenção de outros acontecimentos.
Depois da derrota da esquerda na última eleição, com a inflação indo além da meta, a carne subindo e deixando a picanha inalcançável; a dívida pública inchando rapidamente, os cortes cada vez mais necessários e mais adiados; o déficit crescente; as estatais no prejuízo após de um período de lucros e as propostas de emendas constitucionais sobre os poderes do Supremo e anistia para os manifestantes do 8 de janeiro, o chaveiro suicida arremessando fogos de artifício contra o STF foi oportuno para desviar atenções e tentar conter a marcha de propostas na Câmara Federal. Mas eis que a primeira-dama dá um corte nos acontecimentos e vira notícia com grosseria vulgar contra Elon Musk, que será governo nos Estados Unidos a partir de 20 de janeiro, e agrava com falta de compaixão e desrespeito com o morto, chamando-o de “bestão” que se matou com fogos-de-artifício. Ainda exibiu parceria com um ministro do Supremo.
Não poderia ter escolhido oportunidade mais inconveniente. Na véspera dos G20, e em evento preliminar da cúpula, patrocinado por milhões de reais de estatais. O Rio de Janeiro já fervilhava de jornalistas estrangeiros, que tiveram a primeira aula de Brasil pela ex-docente da Universidade Estadual de Ponta Grossa. As graves travessuras rodaram o mundo. Que opinião esse público mundial estará formando do Brasil? Mas eis que veio agora, em 74 páginas, a descrição resumida do que pretendia um grupo de, no mínimo, meia-dúzia. Pretendiam, mas não fizeram. Quem poderia dar o início, o Presidente, não quis fazer, nem quem deveria sustentar o projeto, o Alto Comando do Exército, segundo se depreende dos autos.
Imagino a reação, nos cinco continentes, das pessoas que leram as notícias do xingamento vulgar contra Elon Musk. Não creio que vão achar graça; imagino que ficarão espantadas, pensando que tipo de país gera uma cena dessas. O Presidente ainda tentou atenuar, advertindo, em público, que “não temos que xingar ninguém”; mas soou hipócrita, porque ele mesmo, dias antes da eleição americana, afirmara, em entrevista, que eleger Trump é “a volta do nazismo e fascismo com outra cara.”
Como se não fosse suficiente, a maioria dos que foram presos, oficiais de forças especiais, estavam prestando segurança no G-20. Os estrangeiros hão de perguntar se somos um país de tontos. Planejadores de assassinato de presidente cuidando da segurança de líderes mundiais, como Biden, Xi Jinping, Macron, Milei – e seu próprio alvo de dezembro de 2022? Enquanto isso, Janja não pareceu afetada pela reação à sua grosseria. Estava em todas as fotos, com a alegria de quem terá no futuro um avião novo e com chuveiro.