O barbeiro da cidade onde morei, há 50 anos, na colônia italiana do Rio Grande do Sul, era um frasista, como todo fígaro. Modesto Simonini ficou famoso, no entanto por uma profecia: “Vai chegar o dia em que os próprios vão se voltar contra os mesmos”. É o que estamos vendo no PT, partido que em pouco mais de 20 anos de vida ganhou o poder de governar o país e, aproveitando-se disso, de se apropriar do estado. Quando os métodos para permanecer no poder começaram a ser investigados, o partido entrou em confusão. Não havia aprendido com o caso mane pulite – mãos limpas – da Itália, e tudo repetiu. Já não se recordava de Collor que, como o PT, foi eleito por suas metas, mas caiu por seus métodos.
O partido já nascera em berço de ouro. Seu manifesto, de 36 anos atrás, foi lançado no Colégio Sion, frequentado pela elite paulistana, fachada majestosa, paredes com um metro de espessura e pé direito de cinco metros. Cresceu sob as bênçãos de boa parte da Igreja Católica brasileira e conquistou o eleitorado por sua mensagem de ética. Hoje, a ética está destroçada pela adoção do princípio de que os fins justificam os meios. E com o afastamento do Ministro da Justiça, depois que a Polícia Federal prendeu o marqueteiro das campanhas presidenciais, também foi destroçado o discurso de que nunca na história deste país se prendeu tanto corrupto graças ao governo. Estamos diante do caso único de que um inocente se recusa a esclarecer sobre um triplex, apelando para um habeas corpus para não depor na Procuradoria.
No site do partido, ainda aparece a Presidente como representação nacional do PT. Mas ela não apareceu na comemoração do aniversário de 36 anos. Inventou uma viagem de última hora ao Chile para evitar constrangimentos. O organizador da festa já havia dito que não fazia questão da presença dela. O PT, de qualquer forma, iria se manifestar contra a política fiscal de Dilma e haveria do risco supremo de ela receber vaias. Ora, ser vaiada pelos que carregam o Pixuleco é uma coisa. Vaiada no aniversário do partido seria o fim da picada. Ou do mandato.
Agora o Ministro-Chefe do Gabinete Civil nomeia o novo Ministro da Justiça e vai a São Paulo dar satisfações a Lula. E o país fica sem saber a quem ele serve. Dilma, pouco a pouco, vai mudando a política externa bolivariana, embora ela seja ideológica, ao contrário de Lula. Semana passada, apoiou projeto de José Serra e se aliou com os tucanos contra o PT para derrubar a exclusividade da Petrobrás no pré-sal. Enquanto o PT vocifera, o IBOPE mostra que o partido está com 12% do eleitorado, bem abaixo até os percentuais de quando Lula foi derrotado três vezes para a presidência. Todo mundo briga e ninguém tem razão – dizem os mineiros. São os próprios contra os mesmos, como disse o fígaro-profeta Simonini.