A presidente garantiu, na Suíça, onde está a sede da FIFA, que o Brasil está preparado para a Copa. No mesmo dia, passageiros da Gol, para se libertarem do confinamento por três horas dentro do avião, eram fotografados sobre a asa, depois de abrirem a porta de emergência, no Galeão. Em Campinas, passageiros da TAM ficaram seis horas dentro do avião porque não há escadas suficientes para embarque e desembarque. No Rio, os trens de subúrbio pararam, porque uma composição descarrilara. Onde há metrô, volta e meia há enguiços e quase todos os dias há ônibus tomado pelo fogo, como protesto. Sem contar os congestionamentos que atrasam a vida de todos, por toda parte. O trem-bala prometido, nem para a Olimpíada. E pensar que tivemos sete anos para nos preparar.
Fazem o movimento #nãovaitercopa, mas é uma inutilidade anárquica. Porque já se gastou muito com os estádios; agora, pelo menos, é preciso desfrutar dos erros, digamos assim. Ficamos calados quando deveríamos ter gritado: foi quando o então presidente Lula fez tudo para trazer a Copa, e conseguiu, a despeito da necessidade de segurança pública, educação, saúde, transporte público. Uma irresponsabilidade, optar pelo circo. Mas a nação não chiou. Deixou acontecer, porque não está acostumada a exigir participação. Agora, talvez com culpa no inconsciente, querem deter a Copa. E saem para as ruas não como vândalos – eles saquearam Roma de cara limpa -, mas como arruaceiros mascarados, a atear fogo em fusquinha de serralheiro, com mulher e criança dentro; a invadir shopping, a quebrar vitrina. A violência é para espantar os democratas, os verdadeiros manifestantes, que exigem padrão FIFA para os serviços públicos.
Vejo muita gente torcendo para a Copa ser um fiasco, tanto para o governo quanto para a equipe brasileira. Aí, cada um com suas conclusões. A melhor seleção de todos os tempos, a tricampeã no México, ajudou a dar popularidade ao general Médici, a ponto de ser o único presidente do país a ser aplaudido quando entrava no Maracanã. Os políticos sempre tratam de desfrutar das sobras das glórias dos atletas brasileiros. Não critico quem torce contra. Sei que a intenção desses é a esperança de que um dia deixemos de lado o circo para nos dedicarmos a exigir solução para as péssimas condições de segurança, saúde, educação, transporte público, organização urbana, planejamento, que infernizam a nossa vida. Com copas e futebol, somos alegres infelizes.