Volto de três semanas de férias no Chile e peço licença para falar mais do nosso companheiro de América do Sul. Em Santiago, o taxista me perguntou, incrédulo: “É verdade que pelos carros brasileiros que compramos aqui, vocês pagam mais lá no Brasil?” Expliquei que somos um país com uma altíssima carga tributária, como se fôssemos um povo rico. E tive que contar ao motorista que, mesmo com tanto imposto, não temos segurança pública, a educação é ruim a saúde pública é péssima e nossas estradas são piores ainda. Andei pelo Chile de norte a sul, o que não é pouco: a distância entre Punta Arenas, no extremo sul e Arica, no extremo norte, equivale à distância entre o Oiapoque e o Chuí. Com a dificuldade de estar tudo espremido entre a mais alta cadeia de montanhas do planeta, fora do Himalaia, e o mar. E as rodovias são um tapete. Fui reapresentado aos buracos no asfalto quando voltei à capital do meu país.
Andei na Patagônia, na região dos lagos, no deserto do Atacama, na região dos vinhos, na capital, Santiago. Estive a quase 5 mil metros de altitude e a cinco graus negativos, escalei um vulcão, caminhei por geleiras, fiz trilhas no deserto, cavalguei, dirigi, andei de barco e avião. E não vi lixo em lugar algum. Nem mesmo no deserto mais seco do mundo, onde o lenço-papel para assoar o nariz volta para o bolso, pois ninguém tem coragem de poluir. As cidades maiores têm a mesma limpeza; o transporte público de Santiago é perfeito; o trânsito é silencioso e o sinal Pare serve para parar os carros, como no primeiro mundo. A propósito, se o Chile estivesse na Europa, ficaria à frente da Espanha, da Grécia, de Portugal, da Itália e talvez da França, em organização urbana e serviços públicos, pelo que notei como visitante. Os chilenos são educados, simpáticos, e até tratam os brasileiros com pedagógica amabilidade, nos fazendo perceber que não estamos no Brasil, mas num lugar civilizado, e, portanto, nos induzem, com cortesia, a que nos comportemos de modo diferente do cotidiano tupiniquim.
Divertiu-me encontrar a cada dia nos jornais uma aventura diferente do novo presidente, Sebastián Piñera, que toma passe dia 11. Num dia cavalgava, no outro jogava futebol, no dia seguinte pilotava uma potente moto, no quarto dia praticava mergulho com cilindro, no quinto jogava tênis, no sexto velejava e no sétimo dia brincava com os netos… ufa! O primeiro país a ser visitado por ele como presidente será o Brasil. Uma boa oportunidade para o presidente Lula compará-lo a seus companheiros sul-americanos, como Chavez, Evo, Correa, e pensar no “dize-me com quem andas…” Não custa repetir que o Chile tem taxa anual de juros de 2,5% e uma dívida pública equivalente a 4% do PIB – no Brasil, a proporção é de 10 vezes mais.
Enfim, confirmei, nesses dias, que é possível ser primeiro mundo mesmo sendo latinoamericano. O Chile teve a sorte de ser também influenciado pelo meu herói sul-americano, o argentino Domingo Faustino Sarmiento. Esteve exilado no Chile e aproveitou para fazer lá a revolução na educação, que mais tarde aplicou à Argentina, como presidente. A educação é a base de tudo. Aqui no Brasil, na última eleição presidencial, o candidato que teve a educação como plataforma, recebeu 2% dos votos. Talvez não queiramos educação, porque a educação liberta, forma cidadãos livres, produtivos, civilizados, felizes.