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O caseiro e a camareira

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Duas histórias parecidas revelam como dois países podem ser diferentes. No Estados Unidos, o chefão do FMI tentou estuprar a camareira do hotel, negra e recém-chegada da Guiné, e foi preso, algemado, renunciou ao cargo e pode pegar 25 anos de prisão. No Brasil, o ministro da Fazenda se envolveu no estupro do segredo bancário de um caseiro recém-chegado do Maranhão e este teve que revelar-se bastardo para mostrar que o dinheiro da conta viera do pai biológico, chefe de outra família. Aqui, inverteu-se o ônus da prova: o caseiro precisou provar a origem do dinheiro.
Hoje, o então ministro da Fazenda é o mais importante ministro do governo, chefiando a Casa Civil da Presidência da República e, como o mundo dá muitas voltas, ele que é chamado, agora, a dar explicações pela multiplicação do patrimônio. Parece que o destino preparou uma ironia para Palocci. Só no ano passado, seu quarto ano de mandato como deputado federal, ele teria faturado, através de consultoria à qual detém 99,9%, 10 milhões de reais. Lula teria que fazer uma palestra por semana, durante todas as semanas do ano, a 200 mil reais por palestra, para chegar a essa soma.

Certa vez, eu escrevia duas páginas na revista Manchete e descobrira que o presidente Figueiredo, depois do infarto, driblava o regime escondendo chocolate na lata de arroz da cozinha da residência oficial do Torto. Revelei isso na revista e ele ficou furioso. Mandou dizer que eu invadira a privacidade dele. Respondi com um bilhete, explicando que homem público não tem privacidade; tem vida pública. E que a saúde do Presidente da República é uma questão de estado, de interesse público, portanto. Ele não tinha o direito do alegar privacidade quando, em sua vida íntima, prejudicava a saúde do chefe de governo do País. Ele acabou tendo que concordar.

Antônio Palocci multiplicou o patrimônio e faturou milhões enquanto exercia, em nome do povo, o mandato de deputado federal. Estava em plena vida pública, embora tivesse uma consultoria privada. Como o ministro importante deve estar acima de qualquer suspeita, e como muitos pensam que os negócios da consultoria privada podem ter se confundido com a condição pública de ex-ministro, deputado e futuro ministro (que já se antecipava no último ano de mandato na Câmara), a melhor forma de o ministro calar a boca da oposição é mostrar quem pagou tudo aquilo e para quê. Simples, claro e objetivo. Não precisa entrar em detalhes da consultoria, que isso pode ser sigiloso. Basta dizer quem e para quê. Ninguém vai se sentir prejudicado por se conhecer relações comerciais lícitas.

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