Um vulcão na Islândia interrompeu o tráfego aéreo na Europa e perturbou todos os aeroportos do mundo, inclusive os brasileiros. Na China, um terremoto matou mais de 2 mil e feriu 12 mil. No Haiti, o terremoto matou mais de 250 mil pessoas. Na Tailândia, uma tsunami matou 230 mil pessoas. Nos Estados Unidos, o furacão Katrina matou cerca de 1500 pessoas. Vulcões, terremotos, furacões matam no mundo inteiro, em todos os continentes. O Brasil está livre dessas tragédias provocadas por fenômenos naturais. Nossas tragédias principais são enchentes e deslizamentos, que matam muito e são provocadas por nós mesmos.
Assoreamos os rios, pela destruição das encostas, e depois, com as chuvas, eles transbordam; construímos nas encostas, destruindo a mata, e a lama desaba, levando as casas. Invadimos, destruímos, como um bando de selvagens sem noção do que estamos fazendo. E quando nos tornamos vítimas de nossos erros, como meninos irresponsáveis, culpamos o estado, por não ter-nos puxado as orelhas. Agora mesmo, em Copacabana, uma ONG boazinha, populista, assistencialista, irresponsável e incivilizada, construiu um barraco de madeirite para sensibilizar o governo para que forneça água, luz, telefone, asfalto, esgoto e, quem sabe, cesta básica, para as pessoas que invadiram os morros, derrubaram a mata, e construíram sem poder, em favelas que a lei não alcança, e que têm liberdades que os outros brasileiros não têm: você quer pagar 15 reais por TV por assinatura? Vá morar numa favela carioca.
Fico me perguntando por que, com esse clima maravilhoso, essas matas, esses rios, esse litoral de 7 mil quilômetros, esses milhões de hectares de solo para produzir alimentos, por que ainda nos arrastamos no atraso, na vida difícil, ainda distantes do conforto de viver em cidades civilizadas? Como a China, com mais de 1 bilhão de habitantes, tem cidades tão organizadas, limpas e bonitas e consegue crescer mais de 10% ao ano por anos seguidos? Como pode a Coréia, arrasada por duas guerras seguidas, nas décadas de 40 e 50, seja um dos países mais adiantados do planeta? Como podem o Japão e a Alemanha, destruídos pela recente II Guerra Mundial, estarem entre as maiores economias do mundo? E nós, que há 60 anos já estivemos à frente de todos esses países citados, estejamos ainda esperando pelo futuro que nunca chega?
Nossa economia até que progride, a despeito dos encargos impostos por um estado incompetente, mas nossos costumes parecem estar desandando rumo à selvageria. Desobedecemos as leis, não temos educação para viver no meio urbano, nos alienamos em relação ao nosso país – o que equivale dizer que nos é desimportante o futuro da nação em que vão viver nossos descendentes. Ontem no supermercado, vi uma senhora bem vestida e saudável estacionar o carro em vaga de deficiente; outra, tirava frutas das prateleiras e dava para a filha provar, mordiscando; um jovem tratava de furar a fila do caixa dos idosos – cenas que eu jamais veria no Uruguai ou no Chile, nossos companheiros sul-americanos, a menos que praticadas por turistas brasileiros. O que há com a gente? Por que queremos viver tão mal? Será que nos sentimos com alguma culpa por não termos vulcões, terremotos e furacões e queremos nos penitenciar, agindo contra nós mesmos?