Virou moda o termo mobilidade urbana para se referir a tudo que se mexe na cidade. Como as pessoas se movimentam no espaço que usado por todos e disputado por todos. Cada vez mais há menos espaço para os veículos circularem e estacionarem. E as pessoas cada vez se atravancam mais, perdendo tempo e humor. O que significa perda da qualidade de vida.
Minhas lições de mobilidade urbana vêm de criança, quando eu saía com meu avô. Foi ele que me ensinou que na calçada se caminha pela direita. Se encontrasse um amigo, meu avô nos afastava para um canto da calçada, junto ao meio-fio ou à parede. Muitas vezes ele puxava pelo braço alguém que estivesse bloqueando o passeio parado no meio da calçada. Costumava me mostrar o quanto é desrespeitoso aos outros um grupo que caminha ocupando toda a largura da calçada. Uma muralha móvel prejudicando os demais.
Lembro-me dessas lições quando vejo pessoas conversando ao pé de uma escada, em corredor, ou nas entradas e saídas, impedindo ou dificultando a mobilidade dos outros. E quando estou no elevador e preciso desembarcar, não consigo, porque gente está aglomerada à porta, tentando entrar antes que os que chegaram saiam. Parecem um bando de selvagens. Por falar nisso, não custa lembrar que o elevador foi inventado há mais de 160 anos e há gente que ainda não sabe usá-lo: aperta no botão de subida e no de descida, como se estivesse indeciso; ou aperta de novo quando a luz já mostra que o botão fora acionado. É muito desagradável perder tempo com parada desnecessária porque alguém pediu para descer mas já subiu.
A escada rolante é usada no Brasil há mais de 60 anos, mas muita gente ainda insiste em usá-la plantada do lado esquerdo, bloqueando os que têm mais pressa. O mesmo acontece com as esteiras rolantes, que agora apareceram nos aeroportos modernizados. Há gente que confunde a esteira móvel com algum brinquedo da Disney e fica lá parada, prejudicando centenas de pessoas que vão pegar o avião. Vai ser preciso por um aviso: “Caminhe. E pela direita.” E no ônibus, que às vezes nos leva entre o embarque e o avião, quantas vezes a pessoa entra, fica dentro do veículo perto da porta, com bagagem, bloqueando a entrada de todos e dando a impressão de que não há mais lugar. É tão simples, tão lógico, tão sensato, que fica difícil imaginar que alguém não saiba se movimentar entre outras pessoas e respeitar os outros.
Parece estar faltando avôs, ou pais e mães para ensinar as criancinhas a facilitar a vida dos outros e a própria. São princípios primários de convivência. Todos os dias, na praça de alimentação onde almoço, vejo mal-educados deixando a bandeja e o prato com restos de comida diante de alguém que ainda está desfrutando da refeição. Todos os dias vejo pessoas formando fila não paralela à parede, mas atravessando a passagem das outras pessoas e obstruindo o caminho. Será que é tão difícil usar o cérebro?