No último fim-de-semana, a China lançou um satélite fabricado junto com o Brasil. Das quatro câmeras de alta-definição que equipam o satélite de 2.100kg, uma foi desenvolvida e fabricada no nosso país. Ainda assim, fiquei frustrado. Há 30 anos, eu cobri, pela Manchete, um lançamento na Barreira do Inferno, perto de Natal, de um foguete estágio do VLS, veículo lançador de satélite, cujo objetivo era pôr o Brasil no clube de países que venderiam lançamentos e satélites. Nossa posição privilegiada em cima da linha do Equador já nos dava um ganho nessa corrida. Depois, ficamos ainda mais perto do Equador, com a base lançadora de Alcântara, que seria o nosso Cabo Canaveral. E agora somos meros coadjuvantes da China, num lançamento que usa o VLS chinês Longa Marcha – numa homenagem a Mao Tse Tung. Um VLS que já foi usado 200 vezes. Um astronauta brasileiro até foi levado ao espaço, há oito anos. De carona em veículo russo.
A nossa ausência no espaço dá a medida da desimportância da ciência, tecnologia, e o ensino em geral, que grassa neste país. Um país que alega ter sido o pioneiro na conquista dos ares. Aliás, Santos Dumont precisou morar na França para conseguir decolar. Outra medida é o Prêmio Nobel. A Argentina conquistou cinco, três dos quais em ciências; o México, 3; o Chile, dois. Venezuela, Colômbia, Peru e Costa Rica também têm prêmio Nobel. Nossos vizinhos americanos do norte têm muitos: o Canadá 21 e os Estados Unidos 338. O Brasil, que foi descoberto na mesma época que os demais americanos, zero. Podem ter certeza que um Prêmio Nobel começa em casa.
Pesquisa da OCDE(Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento) mostra que 67% dos jovens brasileiros que conseguem chegar ao fim do ensino fundamental não têm conhecimentos mínimos de Matemática esperados mundialmente para aquele estágio; 18,8% não tinham capacidade mínima de leitura e 54% não dominavam os conceitos básicos de ciências. No entanto, em pesquisa do IBOPE, 34% consideram o ensino público brasileiro ótimo ou bom; 44% regular e apenas 21% péssimo. Ou seja, estamos satisfeitos com os maus resultados no ensino fundamental, que só 71% dos matriculados concluem aos 16 anos. Depois disso, não há nada que nos dê esperança ou alento. No ensino público começam as diferenças que as cotas não serão capazes de consertar.
O que prepara para o ensino é a educação. E essa não se encontra na escola. Educação é em casa. É lá que se aprende a respeitar os outros, a cultivar a verdade, a não ser egoísta, a se comportar em coletividade, a respeitar as leis, a cumprir compromissos, a ter disciplina, a obedecer, a ter curiosidade de aprender. É em casa que descobrimos o imenso prazer de aprender, que nos acompanha por toda a vida, a cada hora de cada dia. Professor não é tio nem tia. Muito menos pai e mãe. O nome do ministério está errado. Deveria ser Ministério do Ensino.