PUBLICIDADE

Lula na Berlinda

PUBLICIDADE
Alexandre Garcia

O marqueteiro Sidônio pôs Lula no palanque; Lula transforma o palanque em berlinda. Essa exposição dos últimos dias tem gerado mais críticas e ironias do que aplausos – que se limitam as platéias que têm composto os eventos da caravana. Começou na Bahia, quando imaginou que ensinava o povo a não comprar o que está mais caro, tal como faria o Conselheiro Acácio. Depois, em Brasília, onde reuniu os melhores cabos eleitorais do país, quase 4 mil prefeitos, pediu voto, esquecendo a legislação eleitoral: “Quando terminar meu terceiro mandato, vocês vão pedir “Lulinha, fica” – isso a 16 meses do início legal da campanha eleitoral.

No Amapá, Lula – e não a oposição – recomendou ao povo que apague nas redes sociais os políticos que mentem e dizem besteiras. Depois, estimulou os homens a irem para a cozinha, porque as mulheres estão trabalhando fora. E se desviou do tema sobre petróleo equatorial para contar que come ovo de ema e pata e vai comer de jabuti. Quem não consegue comer ovo de galinha deve ter ficado com água na boca. Na Petrobras, criou a narrativa de que a Lava Jato enfraqueceu a estatal para que ela fosse privatizada. No mesmo dia seu governo, através da Controladoria da União, abria mão de 5,7 bilhões de reais, descontados de acordos de leniência com seis empreiteiras. Corrupção confessa e devoluções milionárias de propinas por parte de dirigentes da Petrobras não foram consideradas por Lula.

Será que Sidônio já não estaria arrependido? Será idéia dele a volta do chapéu originalmente adotado para esconder marcas da cirurgia no crânio? Fica estranho em ambiente fechado em que, por respeito, se descobre a cabeça. O panamá com o macacão vermelho da Petrobras exibe uma mescla excêntrica – que pode combinar com as declarações da mesma natureza. A idéia de expor Lula não vai resolver a carestia, a falta de planejamento, a mediocridade no ministério. Aliás, a promessa de reforma ministerial antes do carnaval está afundando pelo abandono de lideranças políticas que comandam partidos que apoiaram Lula em 2022, como Paulinho da Força, Gilberto Kassab e o pessoal da social-democracia. A pesquisa Datafolha que mostra um despencar de aprovação no Nordeste, de 49% para 33%, e aprovação nacional de apenas 24% com 41% de desaprovação soa como um salve-se quem puder entre partidos que garantem votos no Congresso e fora dele.

E nesse domingo, o advogado que tanto defendeu Lula, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakai, ligadíssimo a José Dirceu, veio a público para dizer que “o Lula do terceiro mandato, por circunstâncias diversas políticas e principalmente pessoais, é outro; não faz política, está isolado, capturado; não tem a seu lado pessoas com capacidade de falar o que ele teria que ouvir. Não recebe mais os velhos amigos políticos… É outro Lula que está governando… Corremos o risco do que parecia impossível: perdermos as eleições em 2026.” Os que não têm acesso a Lula, queixam-se de que Janja o “protege dos problemas”. Kakai diz que Lula está preso à memória de seu passado. 

O que mudou em Lula? Talvez nada tenha mudado. Talvez por isso. O mundo mudou, o Brasil mudou, o mundo digital é outro, torna as pessoas mais informadas numa diversidade de notícias – já não as escolhidas por um cartel; e dá voz a todos. Lula está convicto que não há memória do mensalão e da lava jato, quando expõe narrativas como a da Petrobras. Está certo de que o povo não tem memória. E tem bons motivos para isso, afinal, em 2022, mais de 60 milhões de brasileiros votaram nele, segundo o TSE.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Mais notícias
Relacionadas

Ponto de partida

Surge uma nova estrela no horizonte da combalida democracia...

Dois anos

Nos discursos de vitoriosos, os novos presidentes do Senado...

Lula é o problema

Já estão no noticiário as especulações sobre troca de...

Trump e Macunaíma

No discurso de posse, Trump poderia estar se dirigindo...
PUBLICIDADE