PUBLICIDADE

Lava-jato vive

PUBLICIDADE
Alexandre Garcia

A Secretaria de Comunicação da Presidência da República apressou-se em redigir uma nota, em meio à celeuma levantada pelo asilo a uma corrupta, sugerindo que é “improcedente” qualquer relação entre a lava-jato brasileira e a decisão de livrar a ex-primeira-dama peruana da prisão a que foi condenada no dia em que se refugiou na embaixada brasileira. Não adiantou muito. As redes sociais já repetiam no Brasil a manchete do jornal peruano Diario Trome “Corruptos se protegem”. A Transparência Internacional também foi contundente: “Ao acolher pessoa condenada por corrupção, o Brasil envia um sinal preocupante de tolerância com práticas ilícitas que corroem as instituições democráticas e prejudicam o desenvolvimento de países sul-americanos”. A Transparência tem sede na Alemanha; por isso não sabe, como nós, que tolerância com o ilícito é um mal a que já nos acostumamos e, ironicamente, toleramos.

Pelo depoimento que se leu em O Globo e se ouviu na GNews, da jornalista Malu Gaspar, foi Palocci que ajeitou e Lula que pediu a Marcelo Odebrecht os pagamentos de milhões a Ollanta Humala, que se elegeu presidente com o dinheiro ilícito. A entrega era feita em mochilas com 200 a 300 mil dólares num apartamento padrão Geddel, no bairro de Miraflores, em Lima, e recebido por Nadine, que hoje está asilada no Brasil. Ela despejava as notas num armário. A Justiça, com provas, condenou o casal a 15 anos por lavagem de dinheiro. Mas o Presidente do Brasil continuou generoso e ela ganhou asilo na embaixada e depois um avião da FAB para vir ao Brasil sem perigo de receber vaias num voo comercial para Guarulhos.

A generosidade de Lula acabou por levantar o óbvio: se uma similar da Lava-Jato funciona no Peru para condenar quatro ex-presidentes e uma candidata a presidente, por que não funciona no Brasil? Aqui alegaram CEP errado e julgaram que o juiz Moro e o promotor Dallagnol exageraram, mas a materialidade dos crimes continua incólume. Confissões, acordos, devoluções, provas; nada deixou de existir. Os depoimentos que incriminaram os presidentes peruanos são os mesmos que citam autoridades brasileiras, assim como os acordos assinados. No entanto, o Ministro Toffoli anulou provas e cancelou devoluções; o Ministro Gilmar se orgulha de ter acabado com a Lava-Jato e a chamou de criminosa. No Peru tem sido o inverso: os criminosos é que são os criminosos. E vão para a cadeia – se não forem acolhidos pelo governo brasileiro. Aqui, o PT divulgou nota de “integral solidariedade” ao Presidente Lula, que foi solidário com Nadine Heredia.

O Presidente do Congresso peruano cancelou visita oficial ao Brasil, por recomendação do Ministério de Relações Exteriores de lá. Pegou mal o governo brasileiro reagir a uma decisão da Justiça peruana envolvendo crime comum. Sobra a curiosidade: o que teria levado Lula a conceder esse estranho asilo, turbinado por avião da FAB decolando de madrugada. Apenas generosidade com espírito pascal? A Comissão de Relações Exteriores da Câmara vai decidir se chama o chanceler Mauro Vieira para tirar essas dúvidas. O depoimento da jornalista Malu Gaspar revela que Nadine é quem mandava na campanha do marido. E que ela sabia de tudo. Teria ela poder de ressuscitar a Lava-jato no Brasil, também dentro do espírito pascal?

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Mais notícias
Relacionadas

Perdeu, mané

O português me perguntou se é mesmo verdade que...

Farisaísmo

No domingo da manifestação por anistia na Avenida Paulista,...

Tribunal político

O Ministro Luís Fux abriu caminho para que Débora...

Ao passado de El Salvador

O Presidente de El Salvador, Nayib Bukele, mostrou como...
PUBLICIDADE