sexta-feira, 20/setembro/2024
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Irmandade cara-de-pau

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Enquanto o Brasil tem uma formidável rede fluvial, lacustre e 7 mil quilômetros de costas para o Oceano Atlântico, mas não aproveita, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários está preocupada em aperfeiçoar a formação de seu Diretor-Geral. O fato de que ele vai deixar a Agência em oito meses não faz a menor diferença. Ele vai se ausentar, com remuneração, por 24 dias para fazer um curso, que inclui duas semanas na França. Contribuintes como você vão pagar 63 mil reais pelo curso. Meu neto vai fazer um curso de vídeo e propaganda em Nova Iorque por quase dois meses e a despesa não vai passar de 15 mil.

O incrível é que nenhum agente público teria coragem de fazer isso em país minimamente sério. Qualquer um de vocês que me lê, se fizesse isso, não sairia para a rua, não dormiria, morrendo de vergonha. Parece que vergonha é o que se perdeu, com a impunidade, o conceito de que dinheiro do público é de ninguém – e a cultura de que estar dentro da lei é para trouxa. Detentor de um mandato público remunerado pelo contribuinte, Antônio Palocci fatura 20 milhões em um ano, em pleno mandato de deputado federal e na coordenação da campanha de Dilma, e não se sente obrigado a explicar quem pagou e para quê, ainda que metade disso tenha sido auferido depois da eleição presidencial.
Há a certeza de que não reagimos, de que não nos escandalizamos, de que somos imbecis e aceitamos qualquer desculpa. A mais forte explicação para o gigantesco faturamento de Palocci nos últimos meses do ano passado é a de que precisava encerrar contratos de consultoria, então eles foram quitados. Como assim? Pagaram sem receber o serviço? Se tenho contrato com a Globo até o fim deste ano e ela me paga tudo agora, não há dúvida que fico devendo o serviço. Também falta explicar, como lembrou o Elio Gaspari, para onde foi tanto dinheiro, já que apenas pouco mais de 7 milhões foram aplicados em dois imóveis. Até a vida privada do homem público tem que ser transparente, como aliás Palocci sentiu com o indiscreto caseiro da casa de encontros. 

Casos assim passam, porque são um grão de terra no lamaçal. Acontecem em toda a parte do serviço público. Também acontecem na empresa privada, mas o dinheiro da empresa privada é privado e ela certamente não descansa enquanto não obtiver o reembolso. No setor público, reembolso é coisa rara. Proteção, blindagem, espírito de corpo é coisa frequente. Nos Estados Unidos, algemam; no Japão praticam o suicídio; na China, a família paga a bala da execução. Aqui, alguns milhares de eleitores trazem de volta o seu representante.

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