Na Veja desta semana, a escritora Lya Luft se confessa carente de confiança. Difícil de confiar na Educação, onde professores são agredidos por alunos; nos ídolos da meninada, que cantam drogados; no Judiciário minado por corrupção; no Governo em que se denúncias fossem levadas a sério, se fecharia o Brasil para reformas; em pais e mães que parecem adolescentes, sem tempo para os filhos adolescentes; no consumismo; nos eleitores. Ela termina o artigo de página inteira lamentando como é difícil mudar a face deste país.
Eu terminei de ler o artigo e abri o jornal do dia. A Educação vai mesmo mal. A notícia diz que a média de repetência nacional é de 12,5% no ensino médio. Outra notícia informa que um partido que nunca passou por eleição, já tem mais de 50 deputados federais, centenas de deputados estaduais e prefeitos. A democracia vai capenga. Viro a página e sou informado de que o Senado tem 870 cargos a mais. E que vão fazer um protesto contra a corrupção na Esplanada dos Ministérios.
O último, no 7 de setembro, teve 40 mil pessoas. O mesmo jornal informa que uma parada gay no Rio teve mais de 1 milhão de pessoas. Em página inteira, o jornal mostra que a cocaína agora entra pelos portos brasileiros, por onde entram também carros usados contrabandeados e comprados por artistas e jogadores de futebol, ídolos do povo. Outras páginas mostram que continua a matança em que homicídios e acidentes de trânsito ceifam diariamente mais de 300 vidas. Em outra página, a reportagem de um enviado especial à Noruega, relata que o norueguês – povo e autoridades – não tem empregadas domésticas, motoristas, ascensoristas, porteiros, recepcionistas, copeiras, contínuos, porque cada um faz esses trabalhos. O executivo de uma empresa norueguesa no Brasil era visto com estranheza, porque limpava seu próprio escritório, a mesa em que almoçava e os pratos e talheres que usava.
Sejamos sinceros sobre a descrença de Lya Luft: ela é uma brasileira rara – como somos todos os que nos escandalizamos com essa deterioração da nossa estrutura como nação. Porque se olharmos em volta, não encontraremos grandes diferenças entre mensaleiros, cobradores de propina e muitos de nós, que os elegemos. Por isso tanta gente no mundo nos olha com um ar de desconfiança. O jornal que abri noticia pesquisa da Fundação Getúlio Vargas na capital do país: 82% dos que pedem empréstimo já sabem que vão dar calote.