Recebi, pela internet, um texto atribuído ao Millôr Fernandes, “Militares Nunca Mais”. Perguntei ao remetente onde fora publicado e em que data. Ele não soube me responder. Desconfiei, porque tinha mais de 40 linhas. Ninguém que costuma ser lido escreve mais de 40 linhas em respeito ao tempo do leitor. E ninguém que costume escrever, seria incapaz de esgotar um tema em menos de 40 linhas. Fui conferir com o “autor” e a resposta foi a esperada: o artigo é uma praga que incomoda o Millôr há muito tempo e, é claro, não foi ele que escreveu.
Sou também vítima desses que o Arnaldo Jabor chama de falsários covardes. Um texto atribuído a mim, chamado de “Na Janela do Avião” se inspirou em um artigo meu de anos atrás, mas escorregou na pieguice e também se enganou com o meu endereço: disse que eu estava retornando para casa em São Paulo. E moro em Brasília. Um outro texto meloso sob meu nome, comete o palavrão questionamento. Se eu tiver que escrever alguma palavra com mais de quatro sílabas, arrisco ter uma crise de urticária nas pontas dos dedos. Por que vou perder tempo dizendo aeronave em lugar de avião? Um outro artigo meu de anos atrás “Carta de um Americano”, recebeu tanto enxerto, com baboseiras tal como pavor de energia atômica, que virou um frankenstein bastardo. Isso sem falar da minha “demissão” da Globo, a mando do Lula. Falsa porque não posso ser demitido, já que não sou empregado, mas prestador de serviço; além disso, chefe de governo mandar empresa demitir jornalista, só em Cuba.
Há um texto sob o nome do Jabor usando termos gaúchos de que Jabor não tem a menor idéia. Outro usa o nome do genial Fernando Pessoa e fala em internet. O poeta morreu em 1935. Mário Quintana, Mário Prata, Luís Fernando Veríssimo, são nomes preferidos dos falsários da internet. O pior é usarem esses nomes ilustrados para chancelar textos medíocres, longos, cheios de lugares-comuns, modismos, idiotices. Se há algo que me tira do sério na internet, é alguém me mandar, com a maior irresponsabilidade, um texto em que se desrespeita o direito autoral, ou usando o nome alheio, ou alterando texto autêntico. Em geral, quando tem muito adjetivo e pouco substantivo, não é de quem saiba escrever e alinhavar idéias.
Assim, quando você receber um texto pela internet – principalmente com aquela musiquinha melosa no fundo – se não for autenticado pela data e lugar da publicação, que você possa conferir – devolva, e peça ao remetente que não o trate como ingênuo e poupe você da obra de um falsário.