sexta-feira, 20/setembro/2024
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Frutos podres

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 O competente secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, ao se referir ao Sargento e ao Cabo PM que cobraram propina para liberar o carro amassado pelo corpo do filho da atriz Cissa Guimarães,  qualificou-os de “frutos podres” da PM. Eles serão expulsos, enquanto cumprem prisão administrativa. Como algumas centenas de PMS que já foram expulsos por falta grave – frutos podres. Fico pensando como qualificar o pai do atropelador, que negociou suborno de 10 mil reais e levou o carro marcado pelo corpo do morto, não a uma delegacia, mais a uma oficina, pela madrugada, para conserto urgente, alegando que precisava do carro.

    Depois, assustado com a repercussão da morte, porque se tratava do filho de uma artista da Globo, e certamente temendo que na oficina ligassem o carro ao atropelamento, foi buscar o carro para só então entregá-lo à polícia, já com o parabrisa retirado, alterando uma prova de velocidade. Antes, já havia pago mil reais aos policiais. Que lição está dando esse pai ao filho atropelador? Que dinheiro encobre qualquer crime? Que a lei está abaixo de interesses familiares? Que se a polícia é corrupta, o melhor é aproveitar essa fraqueza da lei? Que vidas só valem se as mortes repercutem na opinião pública. Se fosse um menino da favela o atropelado, provavelmente o carro estaria reparado e a morte não seria esclarecida e pai, filho, sargento e cabo estariam impunes. São deficientes cívicos. É falta de formação cívica, que deveria começar em casa.

    Muitos telespectadores mandaram mensagens para a Globo, perguntando por que não há, nas escolas, aula de educação moral e cívica, já que  pais não estão dando essa formação aos filhos. Respondo que já havia essa disciplina, mas foi retirada sob a alegação de que era coisa da ditadura militar. Erro crasso. Moral e cívica nas escolas é coisa de democracia. A base da democracia, a sustentação dela é a cidadania, que só se forma com valores éticos e com uma cultura de respeito a lei. E não basta ser cidadão passivo, que respeita a ética e as leis. É necessária a cidadania ativa, militante, que também exige o cumprimento da lei e o respeito aos valores éticos.

    O caso do Rio de Janeiro nos faz pensar, porque lá impera o comportamento típico da cultura tropical e permissiva: exalta-se o malandro, o esperto e se qualifica de trouxa o cumpridor das leis e o que segue valores éticos. Quando vejo em Ipanema mães carregando crianças pela mão para atravessar uma faixa de pedestre com o sinal fechado para pedestre, percebo como estamos distantes da civilidade e do exemplo doméstico. O mesmo ocorre com o pai que ultrapassa sinal vermelho tendo o filho ao lado, a receber o mau exemplo da infração à lei. Isso é quase impossível de acontecer em países civilizados – e não falo Alemanha ou Estados Unidos, falo em Chile, Uruguai, África do Sul, Austrália, todos nossos companheiros do hemisfério sul.

    O mau exemplo que se espalha em casa também se espalha pelo país. E a vida vai ficando mais difícil, porque no fundo são desrespeitos os direitos de todos. A bagunça das cidades inferniza a vida de todos. Cidades organizadas, em países civilizados, são limpas, seguras, silenciosas, bonitas, fáceis de se viver nelas. Por fim, uma lembrancinha: os frutos podres nunca caem longe da arvore que os produziu.

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