De uma hora para outra, o ex-presidente Lula resolveu fazer uma declaração sobre a sucessão de Dilma. Disse que a candidata é Dilma, à reeleição. E que ela só não será candidata se não quiser. Ao longo de minha vida aprendi a ler as frases sempre com ênfase na oração subordinada que encerrar o raciocínio. A chave do pensamento de Lula está no "só não será candidata se não quiser." É óbvio que se Lula quiser ser candidato, Dilma não vai querer. Ela só será candidata se Lula não quiser ser.
Como entender tudo isso? É preciso saber que o PT inteiro sabe muito bem que Lula será candidato à sucessão de Dilma. O partido tem convicção disso. A tal ponto que essa convicção pode enfraquecer já o poder presidencial de Dilma. E ainda faltam três anos e meio para a conclusão do mandato. Sempre se soube no Palácio que quando a sucessão de um presidente vai para as ruas, o contínuo já reluta em servir-lhe o cafezinho.
Então Lula resolveu fortalecer Dilma e fez a tal declaração. Mas não entregou tudo. Deixou o "só…se….". A saída de Palocci descarregou Dilma de uma parte da herança. O esquema do Ministério dos Transportes mostra o peso da herança. Denúncia do irmão do senador Jucá à Veja, mostra que também há esquema no Ministério da Agricultura. Sabe-se lá se mais onde, num conluio que teve como gênese o famoso Mensalão. Dilma não vai brigar com Lula nem Lula com Dilma. Isso criaria um cisma que só iria beneficiar a oposição – com benefícios eleitorais, é claro, porque são esses que contam para quem briga pelo poder de gastar nossos impostos.
Lula é um marqueteiro de primeira, conhecedor das palavras mágicas que o povo quer ouvir. Dilma foi eleita por sua fama de gerente durona. Entre os dois, hoje, há um porta voz, da confiança de ambos. O Ministro Secretário-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Ele está sendo a voz do governo. Voz que sai de boca sensata. Quem quiser entender as intenções do governo, preste atenção às declarações do ministro. Se você não entender, certamente é porque o recado foi para algum partido ou algum político. E traz a assinatura de Dilma e o nihil obstat de Lula.