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Enganadores

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Alexandre Garcia

Aumenta a cada dia o número de pessoas que superaram o constrangimento e denunciam o curandeiro João de Deus por abusos sexuais. Precisou uma vítima europeia desabafar a violação que sofrera para encorajar as demais. João de Deus foi um milagreiro de sucesso; atraiu milhares de pessoas, de todos os níveis e lugares para a sua Abadiânia, que cresceu em função do seu centro de curas e milagres. Teoricamente, nada cobrava, era um benemérito, mas quando se viu acossado, imediatamente baixou de suas aplicações bancárias 35 milhões de reais.

Assim como ele, o Brasil tem muitos que se aproveitam da boa-fé de pessoas desesperadas, sem esperança. Apelam para curandeiros, milagreiros, demagogos, populistas, falsos benfeitores, com toda a força de sua fé. Milhares foram a Abadiânia nessa situação; milhões foram às urnas. “Ele vai me ajudar” – tem sido a convicção do doente e do eleitor. O resultado tem sido sempre favorável ao alvo da esperança do desesperado: se locupleta e desfruta do poder que lhe dão as pessoas. Um se aproveitando para roubar prazeres sexuais, outros para roubar o patrimônio e os impostos do povo.

Alguns desses, inclusive João de Deus, já estão na cadeia. Outros estão a caminho dela. E hoje olhamos para trás pasmos por saber que por tantos anos um e outros desfrutaram de conceito e respeito, embora tenha sido evidente a ilegalidade de suas atividades. Fomos ingênuos, cegos, alienados, omissos. Pior: de certa forma fomos cúmplices, parceiros necessários para que eles continuassem, por tanto tempo, com o aval de nossa omissão, enganando e enriquecendo ilicitamente.

Parece que foi a Lava-jato que nos sacudiu e nos fez acordar  da letargia que resistira ao mensalão. Talvez tenha sido também  a nossa paciência esgotada pelo tamanho dos escândalos. As últimas eleições, mostraram isso. A municipal deu sinais fortes de mudança e neste ano as urnas confirmaram a revolta, no voto que foi um grito de basta. Milagreiros, curandeiros, populistas, demagogos, mentirosos, enganadores do pobre povo brasileiro – pobre de espírito ou de conta bancária – parecem estar no fim. E, se estiverem mesmo no seu tempo de juízo final, isso, sim, será um grande milagre.

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