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Eis o homem

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O governador romano Pôncio Pilatos, quando entregou Jesus aos judeus que queriam julgá-lo pronunciou as palavras ecce homo, em Latim, que significa: “eis o homem”. Foi mais ou menos isso que Obama usou para apresentar Lula ao chefe do governo da Austrália. “Esse é o homem”, num aperto de mão da maior intimidade, acrescentando: “É o mais popular governante do planeta” – e mostrava que conhecia o ibope de Lula. Depois, brincou: “Deve ser porque ele é boa-pinta”. E Lula, sem se dar conta do gesto reflexo, agarrou as calças abaixo da cintura e deu nelas uma boa ajeitada, subindo-as para a altura do umbigo.

Embora alguns digam que Obama estava gozando, não estava. Obama, com certeza, conhece a trajetória do presidente do Brasil, desde o pau-de-arara de Pernambuco, passando pelo torneiro-mecânico e líder sindical, até a presidência da república, com reeleição. Obama falava sério por vários motivos. O primeiro, por admiração e simpatia pelo brasileiro. O segundo, se descobre olhando no mapa. O Brasil tem posição de relevo na América do Sul. É vizinho de quase todos os países da área e se dá bem com todos. Obama é inteligente, culto, bem informado e bem formado. Conhece bem Geopolítica. Sabe da importância do Brasil e da influência de Lula.

Conquistando Lula, ganha um Brasil amistoso e um amigo capaz de aparar arestas na vizinhança. De segurar as maluquices de Chavez, Evo e Correa. E avisa Christina sobre quem lidera. Lula ficou feliz. Saiu satisfeito da reunião, dizendo que nunca antes na história os mais ricos tiveram tanto diálogo com os que querem ser ricos também. Fez até uma confissão pública de mudança de posição. Lembrou que andava pelas ruas com cartazes de “Fora FMI” e que agora contribuiu para o FMI e faz parte dele. Chique, não?

Como governante com mais tempo de mandato, Lula foi honrado com um lugar sentado, à esquerda da Rainha – branca de olhos azuis. À direita ficou o chefe de governo da Inglaterra, Gordon Brown, a quem Lula confessara que quando era oposição, culpava o governo de tudo; agora que é governo, culpa Europa e Estados Unidos. Atrás do Lula sentado ao lado da Rainha, estava Obama, em pé. Uma honra nunca sonhada pelo menino de Garanhuns. Cheguei a pensar que o protocolo da corte de St James queria apenas dar um tapa de luva em Lula ao posicioná-lo ao lado da Rainha branca e de olhos azuis, e banqueira(teoricamente é a chefe honorífica do Banco da Inglaterra).

Depois da reunião, na entrevista coletiva, uma jornalista inglesa levantou o braço. Ela não queria perguntar; queria pedir desculpas por ser responsável pela crise, já que é branca de olhos azuis. O Presidente ficou desconcertado; a intervenção foi mais que uma sapatada, porque inteligente. Sem graça, saiu-se com uma resposta cheirando a assédio. Disse que ficara olhando os olhos azuis da repórter durante a entrevista. Depois, piorou, afirmando que ela não tinha jeito de banqueiro. Será que a moça estava assim tão mal-vestida? Perdeu a chance de redimir-se. Poderia ter dito: “Quem pede desculpas sou eu, por ter generalizado, quando eu queria me referir apenas aos que causaram a crise. Vocês, brancos de olhos azuis não têm culpa, não. Me desculpe.” Teria recebido de Obama mais um elogio: “Eu não disse? Este é o homem!”

 

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