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Dirceu e o helicóptero

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O esporte favorito do ex-presidente Lula é queixar-se da imprensa. Agora mesmo reclamou que a imprensa fala do José Dirceu e até investigou o hotel que lhe oferecera emprego, mas nada fala do helicóptero do deputado Perrela, que foi encontrado com 445 quilos de cocaína na fazenda dele. Certamente Lula não poderá se queixar de mim, que cobro quase todos os dias em 230 emissoras de rádio CPI e maiores investigações policiais para esclarecer a questão da cocaína aerotransportada. Aliás, ajudei Lula naquele debate com o Collor, que mediei – lembram-se daquela Constituição que ele brandiu "este livrinho que me acompanha 24 horas por dia". Pois era a minha, que emprestei a ele. Além disso, ajudei-o a eleger-se, com meu voto. Aliás, a maioria dos jornalistas sempre foi simpática a Lula, desde que ele surgiu.

Depois que se tornou presidente, mostrou-se avesso à crítica, e passou a se queixar da imprensa. Lula não conhece o cerne da imprensa, como revela o grande Millor Fernandes: "Imprensa é oposição; o resto é armazém de secos e molhados". Millor quis dizer que para elogiar existem os áulicos da corte. A função do jornalismo é criticar, apontar os erros para que sejam corrigidos. Pois Lula, ao fazer a comparação entre Dirceu e o helicóptero, concluiu que "é uma anomalia daquilo que a gente deseja, que é a liberdade de imprensa". Ele não entendeu o que é liberdade de imprensa, que não está condicionada ao desejo de alguém, ou deixaria de ser liberdade. Liberdade é liberdade – e ponto.

Esse desentendimento está inoculado no PT, que sonha com o controle dos meios de informação. Agora mesmo o assessor da presidência Marco Aurélio Garcia e o ex-presidente do partido, Ricardo Berzoini, preparam um documento para reafirmar esse desejo. O eufemismo para esse controle é "democratização da mídia". Os soviéticos usaram muito isso. Na ditadura cubana usa-se há mais de meio século. Minha filha jornalista passou uma semana de férias em Havana e adorou Cuba – tal como Chico Buarque. Mas, ao contrário de Chico Buarque, voltou penalizada com o povo cubano.

Conversou com muita gente na rua. Perguntou sobre Yaoni Sanchez. Nunca tinham ouvido falar. Explicou que é uma blogueira da internet. Internet? Está fora do alcance do povo. Depois, quis saber da genial equipe feminina de vôlei. Ninguém soube responder. Explicaram que só sabem o que o governo quer divulgar. Os meios de informação estão todos democratizados, isto é, sob controle da ditadura. Ela encontrou o medalha de ouro e detentor do récorde de 110 metros com barreiras, Dayron Robles, treinando descalço. O sacrifício é para realizar o que é o sonho de muitos atletas: competir no exterior, para ter a chance de fugir. Sonho que Lula – e Tarso Genro – converteu em pesadelo para dois boxeadores cubanos. Levados de volta a Cuba, baixou sobre eles o manto do silêncio, que aqui não está baixando sobre a cocaína do helicóptero

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