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De volta a Cabral

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O estado do Arizona, que faz fronteira com o México, não aguentando mais as invasões pela fronteira e a presença de milhares de estrangeiros ilegais, aprovou uma lei estadual que considera crime permanecer no Estado sem estar legalizado. O presidente Barack Obama reagiu, afirmando que a lei prejudica as noções básicas de justiça. O cantor Ricky Martin diz que é discriminação e racismo, repetindo o que dissera o secretário-geral da OEA. Os jornais brasileiros, como sempre, tomaram as dores dos brasileiros ilegais que lá estão – e podem passar de mil. Isso não é de estranhar, porque o nosso costume é ficar do lado de ilegais.

Vejam, por exemplo, se órgãos de direitos humanos, oficiais ou privados, se preocupam com as vítimas dos assaltantes. Estão de olho é para saber se criminosos que maltrataram suas vítimas estão sendo bem-tratados. Aliás, a Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal fez um projeto de Direitos Humanos que dá direitos aos invasores de terras. A OAB tentou punir torturadores que trabalhavam para o governo militar, mas não falou nos que jogaram bombas, assaltaram e sequestraram. No racionamento de eletricidade, as favelas cariocas brilhavam, iluminadas, com ligações ilegais que sequer pagavam a tarifa de energia.

A Constituição está cheia de direitos. Prender alguém é uma dificuldade legal muito grande; quem nunca contribuiu para a Previdência pode até ganhar aposentadoria maior que o que sempre recolheu. O invasor de solo urbano logo ganha asfalto, iluminação pública e benfeitorias. O que compra legalmente o seu lote tem que arcar com tarifas, impostos e exigências de alvará. Quem trabalha muito e paga todos os seus impostos, será sempre alvo da fiscalização. Os que estão na informalidade, vão enriquecer sem serem incomodados.

Na universidade, introduziu-se a critério da raça para substituir o do mérito. Nós, brasileiros, somos produto de uma maravilhosa miscigenação. Mas quem alegar sangue negro ou índio vai ser admitido em lugar de quem não alegou, mas tirou nota mais alta. O Ministério da Saúde vai começar agora campanha para que mulher portadoras do vírus HIV engravidem e outra campanha para encorajar os travestis a se mostrarem. Alegam que é para combater preconceitos. O maior dos preconceitos, contra o pobre, não é combatido.

No trânsito, na capital do Brasil, uma lei local obriga avisar que há, nos próximos 300 metros, um fiscal eletrônico de velocidade – a lei é amiga do fora-da-lei. Certa vez o motorista ao nosso lado ultrapassou o sinal vermelho e meu filho, que então tinha cinco anos, me perguntou: "Pai, como é que ele desobedeceu a lei e não foi punido?"- e eu me senti culpado por tê-lo posto no mundo num país em que os cumpridores da lei são vistos como trouxas pela maioria que prefere ficar do outro lado. Um lado que nosso brasileirismo nunca chama de ilegal, ou fora-da-lei. Somos bonzinhos. Eles são apenas "informais," ou "irregulares". A continuar assim, este grande país voltará aos tempos de Cabral.

 

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