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Calcinhas e Cuecas

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Numa região no interior da Inglaterra, as mulheres passaram meses indo às delegacias para registrar constantes furtos de calcinhas. Até que uma dona-de-casa, cansada de ser furtada, instalou uma câmera no seu quarto, que deixava ligada quando saía para o trabalho. A armadilha deu resultado. O prefeito de Preesall, Ian Stafford, 59 anos anos, foi flagrado vestindo uma das calcinhas que estava surrupiando, enquanto  reproduzia movimentos sexuais. Preso, o prefeito confessou que furtava calcinhas havia seis meses, em seu município e municípios vizinhos. E imediatamente renunciou ao mandato.

Aqui no Brasil, usam cuecas para esconder dinheiro de caixa dois, mas também meias, bolsos e pacotes. Até banheira de hidromassagem. E quem usa calcinha, primeiro fecha a porta, depois abarrota a bolsa de dinheiro e finalmente invoca Deus por testemunha da lisura do procedimento. Um deus que certamente náo consegue ver através de portas fechadas. E o mais significativo: aqui ninguém encontra vergonha suficiente para renunciar ao mandato.
          
Por aqui há mais do que falta de vergonha. Há falta de reação. A atividade do corrupto casa-se bem com a passividade do eleitor/contribuinte. O último caso de reação já ficou nas brumas do passado: foi a  dos cara-pintadas que fizeram Collor desistir de ficar no poder e renunciar antes de ser impedido pelo Senado. Já se passaram 18 anos. Collor ainda foi absolvido no Supremo e só restou ter que se explicar à Receita Federal por empréstimos e doações não declarados. Hoje o governador Arruda justifica seu apego ao mandato com a "injustiça" cometida contra o inocente Collor. E não pretende repetir o erro do presidente, de  renunciar.
          
Já o presidente do Legislativo do Distrito Federal, o homem do dinheiro nas meias,  se espelha em Sarney e Calheiros. Os dois senadores ficaram na Presidência do Senado para manter o poder e se livrarem de punição. E assim foi. Meia dúzia de manifestantes apareceu na frente do Congresso e a Nação, masoquista, engoliu todas as ofensas à cidadania, à ética, aos cofres públicos. Episódios que certamente encorajaram os políticos de Brasília. Mesmo posando diante das câmeras do cineasta Durval Barbosa, não se intimidam e agem como se nada tivesse acontecido. E a Capital, com 2 milhões e seiscentos mil habitantes, consegue gerar menos de uma centena de manifestantes para exigir punição para os crimes gravados em som e imagem.
         
Assim como se contavam os votos da Comissão de Ética e do plenário do Senado, nos episódios de Sarney e Calheiros, ou se contavam os apoios de deptados governistas aos mensaleiros na Câmara, contam- se agora os votos a favor dos panetoneiros no Legislativo da capital. Ninguém mais conta o povo, os eleitores, os contribuintes. São apenas cordeirinhos, que não querem se incomodar. Aí, se faz por merecer.

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