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As duas verdades

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O Ministro da Defesa, Nélson Jobim, confirmou ter convidado o ex-deputado José Genuíno para ser seu principal assessor. O deputado ainda não deu resposta. Não conseguiu se eleger depois de cinco mandatos consecutivos – inclusive constituinte – e ficou na segunda suplência. O escândalo do mensalão quando Genuíno era presidente do PT deve ter contribuído para isso. O Ministro quer que Genuíno seja seu principal auxiliar: "Vou colar o Genuíno em mim."
O convite desagradou gente de dois extremos. Um lado lembra que Genuíno fora guerrilheiro no Araguaia, sob ordens do PC do B transmitidas por rádio estrangeira, a Rádio Tirana, da Albânia comunista, para implantar aqui uma ditadura como a que já faz 52 anos em Cuba. E que é réu do processo do mensalão. O lado oposto diz que Genuíno entregou companheiros aos militares e depois, como deputado, foi serviçal das Forças Armadas. Sob a luz da Lei da Anistia, os críticos estão errados.

Genuíno é um modelo de prática da Lei da Anistia: esquecer o passado para construir o futuro com o presente em paz. Outro deputado, Fernando Gabeira, foi além. Banido por ter seqüestrado o embaixador americano, Gabeira diz que não faria de novo. Genuíno foi torturado, mas não menciona isso como currículo. Como deputado, foi membro permanente da Comissão de Segurança Nacional e seu trabalho lhe valeu, além das medalhas Tamandaré e Santos Dumont, concedidas pela Marinha e Força Aérea, a Medalha do Pacificador, com que o Exército homenageia aqueles que tenham contribuído para a grandeza da Força. A mesma que fora concedida ao militar que o prendeu no Araguaia, há 38 anos.
Tudo isso remete a um movimento dentro do governo, a despeito de Dilma ter afirmado, no discurso de posse, que é a presidente "de todos os brasileiros". A nova ministra da Secretaria de Direitos Humanos repete a vontade do antecessor, de instalar a "Comissão da Verdade". Isso é um eufemismo que no fundo significa o desejo de apagar a anistia para os militares – anistia que o Supremo já decidiu ser irrevogável, e beneficia ambos os lados. Os que queriam impor uma ditadura ao estilo cubano e os que queriam manter a ditadura ao estilo militar brasileiro.

Criar uma Comissão da Verdade com gente de um lado só é criar a comissão da meia-verdade, porque há as verdades dos dois lados. Unilateral, será uma chacota a gastar tempo do governo e dinheiro do povo. E fazer uma comissão com representantes dos dois lados, vai virar bate-boca. A Ministra pode chamar os militares de torturadores e os militares vão acusar o partido anterior da ministra, o PC do B, de enganar jovens mandando-os para o Araguaia e de julgar e fuzilar pessoas. Um lado vai acusar o outro de enterrar corpos no Araguaia e o outro vai mostrar que uma idosa líder da guerrilha, para fugir da plícia ao descer de um ônibus no Pará, entregou um casal de companheiros sentado no último banco. As duas verdades vão doer. Um bla-blá-blá quase inútil, porque os que mandaram no período militar estão todos mortos, assim como os chefes que comandaram a guerrilha à distância. E os generais de hoje eram adolescentes em 1964. Melhor fazer como Genuíno. Juntos, mãos e cérebros contribuem mais para o Brasil. Destilar ódios é perda de energia.

 

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