Conta a revista Isto É desta semana que Lula, lamentando a situação do governo Dilma e do PT, teria avaliado que seria melhor que Aécio tivesse ganhado a eleição. Se assim fosse, Lula e o PT estariam comodamente na oposição, alegando que o desajuste na economia brasileira havia sido provocado pelo novo governo. O desemprego e a inflação crescente seriam responsabilidade de Aécio e dos tucanos; o PIB cadente e os juros crescentes seriam por causa do novo governo. E mais, todas as descobertas da Operação Lava-Jato seriam obra de ficção da Polícia Federal e dos procuradores da República a serviço do governo tucano.
Como seria impossível atribuir os males do Brasil ao governo FHC que acabou há mais de 12 anos, o governo Aécio, mais atual, cairia do céu para a sobrevivência do PT. Lula convenceria o mesmo público que reelegeu Dilma de que a violação da Lei de Responsabilidade Fiscal, as propinas por conta da Petrobras e, principalmente o desemprego crescente e a queda da renda, o endividamento com juros altos, são obra do governo Aécio. Somente um governo totalmente despreparado e alheio às leis e à ética, cometeria tantos desatinos – alegaria a oposição petista. Com isso, o PT não correria o risco de estar no volume morto, como diagnosticou Lula.
Aécio no governo talvez estivesse agora em Washington, como Dilma. Essa seria mais uma razão para a oposição petista desancar o entreguismo tucano, que derruba por terra a reação corajosa de Dilma, ao cancelar a viagem de 2013 em represália à revelação de espionagem americana no Brasil. E se o presidente Aécio tratasse de livre comércio nas Américas, como a delegação de Dilma está tratando, certamente teria Lula a criticar o afrouxamento da posição brasileira expressa no governo dele contra a ALCA, afinado com as posições de Chavez. Se o presidente Aécio prometesse a Obama que o Brasil vai parar de desmatar a Amazônia, como garantiu agora Dilma, o PT falaria em subserviência. E criticaria ainda mais o Ministro da Fazenda Joaquim Levy, do governo Aécio.
Seria uma delícia para o PT estar agora na oposição, voltando à sua vocação primeira. Depois de 12 anos no poder, o partido, conforme diagnosticou Lula, está velho, só quer cargos, perdeu a utopia, só quer salvar a pele. Como Lula sabe que a oposição está vaga no Brasil – ou não diria, sabiamente, que “estamos perdendo para nós mesmos” -, a sobrevivência dele, do partido e da presidente que criou, poderia estar assegurada se Aécio tivesse ganhado a eleição. Mas a realidade é outra. O ônus ficou com quem criou os problemas. E Aécio ganhou, perdendo.