A Assembléia do Rio Grande do Sul acaba de aprovar um projeto-de-lei que obriga, no Estado, tradução para o Português, toda vez que for usado um vocábulo estrangeiro. O lojista que anunciar uma liquidação como sale, e descontos como off, ficaria obrigado a pôr, entre parênteses, a tradução. As empresas de publicidade já estão reclamando. Há muitos anos não entro em loja que anuncie em inglês. Penso que se alguém não respeita a lei maior, que é a Constituição – que diz, no artigo 13, que a língua no Brasil é o Português – não haverá de respeitar uma simples lei ordinária, como é o Código de Defesa do Consumidor.
No Congresso Nacional houve tentativa semelhante, e um projeto chegou a ser aprovado na Câmara, mas depois foi considerado impraticável. Proibia estrangeirismos sempre que houvesse equivalente na língua-pátria. No Paraná, em 2009, as agências de propaganda derrubaram, no Tribunal de Justiça, lei estadual com o mesmo objetivo. A propaganda, no Brasil, chama painéis de outdoor. Nos Estados Unidos o nome disso é billboard. O que aqui chamamos de shopping center, nos Estados Unidos chamam de mall. Como se vê, a gente vai mal até na tradução.
Ainda não se sabe se o governador gaúcho vai sancionar ou vetar a lei. Ele apenas deu uma pista lembrando que no Canadá os francófonos defendem sua língua da influência inglesa que os cerca. Os que contestam, por inútil, a lei recém aprovada, alegam que melhor seria defender a língua portuguesa, que está sendo cada vez mais deteriorada pelo mau uso. Em O Globo de domingo, o escritor João Ubaldo Ribeiro, da Academia Brasileira de Letras, ironizou as bobagens que cada vez mais se misturam à Língua Portuguesa.
"Comerciar" praticamente não existe mais e chegará talvez o dia em que os que comerciam serão comercializantes. Aliás, ninguém vende mais nada, só comercializa. – divertiu-nos João Ubaldo. Ele não deve ter visto no Correio Braziliense reportagem sobre diabetes em que a repórter – supostamente com diploma de curso superior – escreveu que o díficil é inicializar o tratamento. E deve ter esquecido da moda de usar o "a partir de": Vinho a partir da uva cabernet; logo teremos farinha a partir de trigo. A lista de João Ubaldo é grande, mas não posso deixar de repetir este trecho: Acho que foi essa necessidade de usar palavras por algum motivo consideradas preferíveis, ou chiques, que ocasionou o triste banimento dos verbos "botar" e "pôr", preteridos universalmente por "colocar". Ainda não vi referência a galinhas colocadeiras, em lugar de poedeiras, mas já li sobre galinhas colocando ovos e o dia das colocadeiras não deve tardar. Depois de lembrar a besteira de trocar "por causa de" por "por conta de", João Ubaldo termina lembrando a presidente: a presidente pode preferir ser presidenta, mas, quando mencionada na condição mais genérica de "governante", duvido que ela queira ser designada pela forma feminina da palavra. Dixit.