Por que não desistir de sediar a Copa do Mundo? – pergunta a última página de Veja desta semana. Afinal, a Colômbia, em dificuldades com a segurança, desistiu e a Copa de 1986 foi para o México, que já havia sediado a do nosso tricampeonato em 1970(a melhor de todas as seleções). Não conseguiremos ter aeroportos suficientes, nem estradas suficientes, nem ruas suficientes para chegar ao estádio da abertura, por exemplo. Eu fico a imaginar quantas escolas poderiam ser construídas ou reformadas e ampliadas e quantos hospitais poderiam ser erguidos em lugar de estádios que depois só vão servir para alguns jogos regionais, por exemplo.
Eu me empolgava com o futebol quando era criança. Hoje encontro maneiras bem mais agradáveis e prazerosas de ocupar meu tempo em vez de sentar-me diante da tv para assistir a futebol num domingo à tarde ou na noite de qualquer dia. Não me interessa sequer essa tal Copa do Mundo, um show business que envolve propaganda, negócios, promoções – uma bola movida a dinheiro, muito dinheiro. E a gente que dá a vida por isso. Literalmente. Ainda no domingo, por causa de Vasco e Flamengo, houve um morto, dezoito feridos e mais de 100 presos no Rio.
Um deputado federal do Rio de Janeiro tem um projeto-de-lei que declara feriados todos os dias de jogo do Brasil. Lembro-me de que a Copa de 1950, aqui mesmo, não parou o Brasil. Nem mesmo os jogos dos campeonatos estaduais. Ainda era mais esporte e menos negócio. Na partida decisiva, entre Brasil e Uruguai, eu estava ao lado de meu pai, que transmitia um jogo da segunda divisão gaúcha, na mesma tarde daquele domingo, 16 de julho. Uruguai, bicampeão do mundo! E na segunda-feira, todo mundo trabalhou normalmente, sem crises, sem choros.
Os americanos não se empolgam muito com o soccer, embora inventado na pátria-mãe. Para eles, é uma hora e meia de corre-corre atrás da bola, com pouquíssimos pontos. Preferem o football deles, o basebol e o basquete, que mexem mais com o placar. Mas nós adoramos o futebol. Abandonamos a civilidade para brigar por equipes de futebol; nos queixamos pouco dos políticos que roubam porque mais importante é o futebol, e nem nos importamos com os cartolas que enriquecem porque enchemos os estádios. Provavelmente não nos importaremos em trocar escolas e hospitais por estádios onde vão correr atrás da bola nossos imperadores e reis.