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A Herança

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Na última sexta-feira, o presidente Lula declarou que “Dilma será uma presidente que não receberá nenhuma herança maldita”.  Estaria ele reagindo a algum indício nesse sentido? Naquele mesmo dia, o Banco Central anunciava medidas para conter o crédito e a inflação, revelando preocupações com o que está passando dos limites. Quando Lula recebeu o governo, o crédito representava 24% do Produto Interno Bruto. Era pouco. Agora, está em 48%, o dobro, e parece demais. O presidente do Banco Central disse, ao justificar as medidas de endurecimento monetário, que elas vêm  para garantir “a sustentabilidade do crédito” – ou seja, há o medo de uma bolha, que estoure em inadimplência, tal como aconteceu nos Estados Unidos e gerou o atual crise mundial.
   
Quando estourou a bolha americana, Lula a chamou de marolinha e pediu que continuássemos comprando. Deu certo. O tsunami não chegou aqui. E o próprio governo deu exemplo, gastando demais. Boa parte foram gastos de custeio, não investimento que gera riqueza. As pessoas gastaram demais, o governo gastou demais – entusiasmado pelo ano eleitoral – e ambos estão endividados e pagando juros altíssimos. A inflação estourou a meta de 4,5% ao ano. O índice de preços do IBGE está em 5,2% AA; o índice geral de preços da Fundação Getúlio Vargas está em 10,27%. A população já sente a carestia, principalmente em  alimentos.
   
Se compararmos com a inflação, os juros estão estratosféricos: os do cartão em quase 240% ao ano; no cheque especial, 164%; o crédito pessoal, 44%; para bens duráveis, 50%; veículos, 23,5% e até o crédito consignado, quase sem risco, 26% ao ano! Não é à toa que o setor financeiro é o mais bem remunerado do Brasil. As medidas do Banco Central, diminuindo a oferta de crédito, devem tornar os juros ainda mais elevados. O objetivo é evitar os excessos de fim de ano e tenderão a pressionar a inflação e aumentar o rol dos endividados.
   
Com tanta compra, inclusive de dólar(que se desvaloriza nas mãos do Brasil), a dívida do governo está gigantesca – e os juros que o governo paga se contam pelas dezenas de bilhões de dólares.  Para piorar, o balanço de pagamentos está com déficit de 50 bilhões de dólares. De nossas exportações, só se safam as commodities agrícolas e minerais valorizadas. As exportações cresceram bem: mais 31% até agora, neste ano, mas as importações cresceram 44%. Do jeito que vai, o PAC só terá futuro com a abertura de concessões para o setor privado, já que o estado não terá capacidade de investir o programado.
   
Essa é apenas parte da herança pesada. Quem usou o termo “maldita” foi o presidente Lula.

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