A analista do Ibama Karina Cham e a professora doutora Roberta Cornélio Ferreira Nocelli, da Universidade Federal de São Carlos (SP), representaram o Brasil no workshop Pesticide Exposure Assessment Paradigm for non-Apis Bees (Paradigma para avaliação de exposição a agrotóxicos para abelhas não-Apis), realizado de 10 a 12 de janeiro na Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), em Washington.
A oficina teve como objetivo discutir as particularidades da exposição de abelhas não-Apis a agrotóxicos em ambientes agrícolas e estudar a necessidade de alteração da avaliação de risco do uso desses produtos empregada atualmente por agências reguladoras. Os resultados, que contêm informações importantes para o processo global de regulação de agrotóxicos e apontam pesquisas necessárias, serão divulgados em uma publicação que será lançada em breve pelo comitê organizador do workshop.
A Apis mellifera, também conhecida como abelha do mel, é considerada a principal polinizadora de culturas agrícolas no mundo. Por ter biologia conhecida, ser facilmente mantida em laboratório e apresentar ampla distribuição geográfica, é utilizada como organismo-teste padrão em estudos voltados para avaliações de risco do uso de agrotóxicos.
Abelhas nativas de outras espécies (chamadas não-Apis para fins didáticos) realizam até 90% da polinização em alguns ecossistemas brasileiros. Entre estas, destacam-se as abelhas sem ferrão (meliponíneos), cujas características foram apresentadas pelo Brasil no workshop. O grupo é característico de climas tropicais e está presente na maior parte dos países sul-americanos.
Os outros países participantes apresentaram informações sobre abelhas solitárias (Osmia spp., Megachile rotundata e Nomia melanderi) e as do gênero Bombus, para as quais já estão sendo desenvolvidos protocolos para teste.
A bióloga Karina Cham, que representou o Ibama no workshop, coordena um grupo de trabalho (GT) formado por representantes da academia, de empresas e de órgãos de pesquisa com a finalidade de propor a primeira norma brasileira sobre o risco do uso de agrotóxico para os polinizadores e elaborar um manual que oriente sua aplicação. No fim de janeiro, o grupo elaborou uma nota técnica na qual aponta questões que precisam ser estudadas para garantir o avanço dos procedimentos de avaliação de risco do uso de agrotóxicos.
Participaram do evento 37 especialistas do governo, da academia e da indústria, além de representantes da EPA, da California Department of Pesticide Regulation (CDPR) e da United States Department of Agriculture (USDA), dos Estados Unidos; da European Food Safety Authority (EFSA), da Pest Management Regulatory Agency (PMRA), do Canadá; da Agence Nationale de Sécurité Sanitaire de l’Alimentation, de l’Environnement et du Travail (ANSES), da França; e do Julius Kühn Institute (JKI), da Alemanha. O Brasil foi o único país do hemisfério sul a participar do evento.
Resultados
Um dos capítulos da publicação que divulgará os resultados do workshop será baseado no documento sobre meliponíneos apresentado pelo Brasil. Elaborado por especialistas brasileiros em abelhas sem ferrão, o material poderá servir de base para que diversos países desenvolvam instrumentos de proteção aos polinizadores.
O encontro também resultou na elaboração de uma equação que permite calcular a exposição a agrotóxicos pelo contato com elementos do solo. A solução poderá ser incorporada ao sistema de avaliação de risco aplicado atualmente pelo Ibama. A primeira instrução normativa sobre o risco do uso de agrotóxicos para abelhas será publicada em breve pelo Ibama, associada a um manual de procedimentos que orientará sua aplicação.
Fonte: Só Notícias/Agronotícias