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Sob sol forte e calor, caminhões carregados com soja já formam pequenas filas nos pátios dos armazéns das tradings em Campo Verde, no sudeste de Mato Grosso, em um indicativo concreto de que a colheita no principal Estado produtor de grãos do país já ganha ritmo e começa a despejar no mercado um volume que deverá ser recorde nesta temporada. Produtores, contudo, dizem que a mesma condição de tempo seco que favorece os trabalhos das colheitadeiras começa a colocar em risco o desenvolvimento das áreas que ainda não estão maduras.
“Estamos com clima favorável para a colheita… mas as lavouras plantadas mais tarde estão sofrendo com as chuvas irregulares”, disse o presidente do Sindicato Rural de Campo Verde, Gladir Tomazelli, em seu escritório na fazenda, onde a plantação de soja vai até a beira da janela. Segundo ele, algumas áreas não recebem chuvas há cerca de duas semanas.
A declaração reproduz o sentimento misto que impera entre os produtores de Mato Grosso. Por um lado, até o momento, previsões de chuvas prejudiciais para a colheita não se confirmaram. Por outro, é usual que janeiro seja um mês bastante úmido e a falta de precipitações coloca em dúvida o potencial de produtividade de diversas lavouras.
“Este início de colheita está se desenhando muito bem, porque essas áreas plantadas mais cedo passaram todo o ciclo numa condição de clima bom. Mas o cenário pode se complicar um pouco, já que o tempo seco pode prejudicar a soja que está em enchimento de grão neste momento. Pontualmente, tem regiões em que está faltando chuva”, relatou o engenheiro agrônomo Alexandre Lopes, que presta consultoria em uma área que soma mais de 30 mil hectares de soja na região de Campo Verde.
Eventuais perdas de rendimento ainda não são refletidas nas previsões de volume colhido. O mercado global está acompanhando atentamente o desenvolvimento dos trabalhos no Brasil, o maior exportador de soja.
No início desta semana, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) elevou sua previsão para a safra nacional de soja em 2016/17, para um recorde de 103,8 milhões de toneladas, alta de mais de 1,3 milhão de toneladas ante o relatório de dezembro. Cerca de 250 mil toneladas a mais foram previstas para a safra de Mato Grosso, que deverá atingir 29,1 milhões de toneladas, de acordo com o levantamento da Conab.
A previsão oficial está em linha com a média das previsões de consultorias e outras entidades, segundo uma pesquisa da Reuters, que apontou na semana passada uma safra de 103,5 milhões de toneladas, com analistas dizendo que bolsões de problemas climáticos não têm sido suficientes para reduzir as estimativas.
Qualquer problema relatado até o momento é bem menos grave que os danos provocados por chuvas irregulares na temporada passada, quando as expectativas iniciais de superar a marca de 100 milhões de toneladas foram frustradas em várias regiões produtoras, principalmente sob influência do fenômeno El Niño.
Na região de Sorriso, maior município produtor de soja do país, no médio-norte de Mato Grosso, o tempo seco e quente na última semana acelerou a maturação das áreas e a colheita das plantações de ciclo precoce já ocorre em ritmo acelerado.
“Tem bastante colheita acontecendo… Era para colher daqui a uma semana, mas acabamos colhendo agora em função de sol”, afirmou à reportagem o produtor Laércio Lenz, por telefone, enquanto operava uma colheitadeira em sua fazenda.
O clima de apreensão entre os produtores de Mato Grosso tem sido amenizado pelas previsões de retorno das chuvas nos próximos dias. “Com certeza vai ser uma produtividade normal, igual à de dois anos atrás, se chover”, projetou Lenz, confiando nas projeções climáticas.
A Somar Meteorologia disse que na próxima semana “chuvas voltam com mais força sobre o Mato Grosso, especialmente sobre o centro-norte do Estado”. Há a previsão de chuvas em forma de pancadas, que mantêm a umidade do solo, mas não interrompem prolongadamente os trabalhos de colheita.
“As condições se manterão favoráveis tanto ao desenvolvimento das lavouras quanto à realização dos tratos culturais, como a colheita da soja e o posterior plantio do algodão e do milho segunda safra”, projetou o meteorologista Marco Antônio dos Santos, da Rural Clima.
Fonte: Reuters (foto: Só Notícias/Vanessa Fogaça/arquivo)