Nesta quinta-feira, os preços da soja fecharam sua terceira sessão consecutivo com altas na Bolsa de Chicago, tal qual os futuros do farelo negociados no mercado futuro norte-americano. E nesta sessão, subiram ainda as cotações do óleo, que fecharam o dia avançando mais de 1% na CBOT.
Entre as posições mais negociadas da soja grão, as altas foram de 7,25 a 8 pontos, com o julho/17 – que chegou a superar os US$ 9,40 por bushel – encerrando o dia a US$ 9,38. O contrato novembro, referência para a safra americana, terminou o dia com US$ 9,43.
Parte do combustível para esse avanço dos preços em Chicago vem de altas que têm sido registradas também no mercado do trigo nas bolsas americanas, como explica o analista Eduardo Vanin, da Agrinvest. Com os problemas climáticos afetando severamente a nova safra de trigo dos EUA, os fundos – ainda muito vendidos – também recompram posições, têm rompido resistências e o movimento puxa os grãos de uma forma geral.
Nos Estados Unidos, ainda segundo Vanin, os locais que mais preocupam no cenário climático, neste momento, são as Dakotas do Norte e do Sul e Minnesota, onde o tempo se mostra mais quente e seco. “Estes três estados se destacam pelo aumento de produtividade registrado no ano passado, e pela troca de área de tigo por soja. Atualmente, correspondem por 22% de toda a área plantada de soja nos EUA, quase 1/4 da área americana”, diz.
Nos demais estados produtores, ao menos por enquanto, a reserva hídrica do solo ainda traz alguma segurança para o desenvolvimento da safra. Será necessário, portanto, seguir acompanhando os mapas climáticos – que são atualizados diariamente – tal qual os boletins semanais de acompanhamento de safras, trazido pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) todas as segundas-feiras.
“Temos agora um mercado climático com cara de mercado climático e isso tem trazido volatilidade aos preços. Porém, é bom lembrar, que tudo pode mudar no clima e por isso não podemos dizer que o mercado só vai subir a partir de agora”, diz Vanin.
Agora, o momento é de adequação do mercado. “Com esse clima não adequado nestes estados, o mercado tem que se readequar, não só os fundos – que precisam correr para cobrir suas posições vendidas, não totalmente, mas parcialmente – e também os consumidores, que não estavam travados, tendo que vir a mercado para comprar ou fazer suas travas que estavam em aberto”, explica o analista da Agrinvest.
Entre as notícia do front da demanda, o mercado recebeu nesta quinta o novo boletim semanal de vendas para exportação dos EUA, também reportado pelo USDA.
Na semana, as vendas da safra velha americana vieram ‘fracas’ e abaixo do esperado pelo mercado, com pouco mais de 159 mil toneladas. Porém, com esse total, o acumulado na temporada já chega a 58.597,2 milhões de toneladas, contra 48.453,8 milhões do mesmo período do ano anterior.
Da safra 2017/18, os EUA venderam mais 221,8 mil toneladas de soja em grão, contra expectativas de 50 mil a 250 mil toneladas, e os espanhois também foram os principais compradores.
Além disso, as informações sobre as importações de soja da China em maio foram recordes e ao somarem 9,59 milhões de toneladas apresentaram um crescimento de 25% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
“A China vive momentos durante a temporada, de margens positivas e negativas – onde, naturalmente, as esmagadoras e tradings reduzem um pouco o ritmo”, explica Vanin. “E nesse momento, vemos a China mais cautelosa, em função das margens negativas. (…) Podemos ver a China comprando menos agora, porém, quando as margens voltarem a ser positivas, a China vai vir com tudo”, completa.
Mercado Brasileiro
No Brasil, os preços mais uma vez acompanharam o avanço das cotações em Chicago e subiram até 2,44% no interior do país, como foi o caso de Alto Garças, em Mato Grosso. Na região Sul, boa parte das praças de comercialização já vêm as referências voltando à casa dos R$ 60 por saca.
Nos portos – Paranaguá, Santos e Rio Grande – a soja disponível fechou o dia com R$ 70 por saca e altas que variaram de 0,73% e 1,30%. Já o produto da safra nova foi a R$ 74 no terminal gaúcho e R$ 73 no paranaense.
Com esse cenário e mais o dólar em alta, as oportunidades para o produtor brasileiro voltam a aparecer – o que já há acontece há alguns dias. “Temos visto uma combinação que não é muito comum, uma curva dos futuros em Chicago inclinada, e isso quer dizer que, para o ano que vem por exemplo, com os vencimentos março/maio valem mais do que os vencimentos que precificam a soja no mercado à vista. E isso favorece a soja na safra nova, além disso, ainda temos os prêmios que estão em um nível bom”, diz Vanin.
Mais do que isso, ainda segundo o analista, o risco político no Brasil trouxe ainda mais risco também para a curva de juros no Brasil, que afeta a rolagem do câmbio no país para o ano que vem – que fica maior e é bom para o produtor. “Temos visto uma diferença de R$ 5,00 a R$ 6,00 por saca na safra nova relação à safra velha, produtor tem que aproveitar esse spread porque não é muito comum”, conclui.
Nesta quinta, o dólar comercial fechou o dia com R$ 3,26, recuando 0,21% e acumulando, nas últimas três sessões, uma queda de 0,7%.
“Nesse momento, o mercado está acreditando que Temer fica no cargo. Ele ganharia fôlego que pode resultar em apoio para aprovar as reformas”, disse o diretor da mesa de câmbio da corretora MultiMoney, Durval Correa, à agência de notícias Reuters, referindo-se às reformas trabalhista e da Previdência.