O mercado internacional da soja registrou mais uma semana bastante intensa – apesar do fechamento de leves altas no pregão desta sexta-feira – e acumulou ganhos de mais de 2% entre as principais posições negociadas na Bolsa de Chicago. O contrato maio/18 fechou com US$ 10,71 por bushel, após bater na máxima de 1 anos de US$ 10,82 e mostrou que se mantém firme o movimento de avanço da commodity.
Como explicou o diretor da Labhoro Corretora, a falta de mudanças no cenário climático da Argentina e, consequentemente, a manutenção de adversidades que seguem castigando a nova safra da Argentina seguiu como foco principal dos traders. O potencial de produtividade, peso e qualidade da produção argentina permanece muito ameaçado pelo tempo seco e pelas altas temperaturas no país e novas correções para baixo no tamanho dessa colheita podem aparecer caso as mudanças não cheguem de forma efetiva.
Ao mesmo tempo, as previsões atualizadas mostram que os próximos dias continuam sem precipitações suficientes para trazer um alívio às lavouras de importantes regiões produtoras. “Não está chovendo e não tem previsão de chuvas para os próximos 10 dias”, diz Sousa em entrevista ao Notícias Agrícolas. “E essa situação pode se agravar ainda mais dado o momento vivido pela soja agora. Se não chover, a safra da Argentina será um desastre, como no milho, que quebrou 40% pelo menos em relação à previsão inicial”, completa.
O diretor da Labhoro afirma ainda que os principais modelos climáticos estão em sintonia e mostram tempo predominantemente seco na Argentina e a situação é bastante crítica.
Com a mesma intensidade e de olho nas informações sobre o clima, a atuação dos fundos de investimento também ajudou a direcionar e a dar suporte aos preços praticados na Bolsa de Chicago durante essa semana.
“Os fundos saíram de vendidos, no final de janeiro, para comprados e estão comprados em 100 mil contratos na soja. E vão buscar um número superior a 150 mil, podendo chegar a 200 mil contrato, e agora vai ser uma batalha. Eles não devem deixar o mercado cair porque estão comprados e podem apostar depois, passando tudo isso, no clima americano”, explica Sousa.
Demanda
A demanda mais forte também ajudou a garantir mais uma semana positiva para os futuros da soja na CBOT. Durante os últimos dias, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) trouxe anúncios de novas vendas – citando, principalmente, China e destinos não revelados – além de bons dados de vendas para exportação, após boletins que vinham trazendo cancelamentos.
Na semana encerrada em 22 de fevereiro, foram vendidas 857,9 mil toneladas de soja da safra 2017/18, com a China ainda como principal destino da oleaginosa. As projeções dos traders, porém, variavam de 400 mil a 700 mil toneladas.
No acumulado da temporada, as vendas americanas já somam 45.571,3 milhões de toneladas, contra pouco mais de 52 milhões do ano passado, nessa mesma época. O USDA estima que as exportações de soja da safra 2017/18 sejam de 57,15 milhões de toneladas. “A demanda essa semana foi mais forte (…) Tudo isso faz com que o mercado venha encontrando suporte”, diz o executivo da Labhoro.
Acompanhando as altas em Chicago e sendo ainda mais intensas, os preços da soja no mercado brasileiro também registraram ganhos bastante signficativos. Somente em Sorriso, Mato Grosso, a referência fechou a semana com alta de 8,42% para R$ 61,80 por saca.
No Paraná, praticamente todas as praças de comercialização pesquisadas pelo Notícias Agrícolas, no levantamento feito pelo economista André Bitencourt Lopes, já atuam na casa dos R$ 70 e registraram altas de mais de 5%. Altas significativas foram observadas também em Goiás e Mato Grosso do Sul.
No melhor momento dos preços nos portos, Paranaguá chegou a bater em R$ 81 por saca, mas fechou a semana com R$ 80 tanto no disponível, quanto no mercado futuro. Os ganhos superaram os 3% no terminal paranaense. Já em Rio Grande, R$ 79,40 e R$ 79,80 por saca, respectivamente, com os indicativos subindo mais de 2%.
Apesar desse reflexo imediato – e diário – das altas em Chicago sobre os preços no Brasil, os negócios não evoluíram no mesmo ritmo, ainda como relata Ginaldo Sousa, com os produtores segurando novas vendas para avaliar mais de perto o comportamento do mercado após esse rally e nas próximas semanas frente ao atual cenário climático da Argentina.
“O produtor faz certo ao segurar, mas tem que aproveitar as oportunidades para vender melhor e tem que saber também vender aos poucos, fazendo aquilo que chamamos de tomada de lucro, mas no sentido inverso, fazendo média”, explica Sousa.