O mercado internacional da soja chegou a operar de lado durante o pregão desta quarta-feira, porém, os futuros da oleaginosa ampliaram suas baixas no final da sessão, levando o contrato maio/17 a perder novamente o patamar dos US$ 9,50. As cotações devolveram boa parte dos últimos ganhos, mesmo diante de previsões de chuvas ainda muito intensas para o Corn Belt até o início de maio.
A volatilidade é típica deste momento dos preços, que entram na ampla janela do mercado climático norte-americano, como explicam analistas. E, apesar do quadro, o primeiro número oficial do plantio americano – com 6% da área semeada até o último dia 23 – acabou sendo uma surpresa para o mercado.
Para o consultor em agronegócio Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios, os 6% foram surpreendentes, ficaram acima do esperado, e os intervalos dos próximos 30, 60 e 90 dias serão fundamentais para o direcionamento e a formação dos preços, inclusive para o produtor brasileiro.
“Mas, para trazer uma projeção mais alinhada dos preços, será preciso esperarmos o dia 10 de maio, quando o USDA traz seu novo boletim mensal de oferta e demanda, devendo trazer as primeiras projeções para nova safra americana”, diz.
Previsão do Tempo nos EUA
Nos próximos 7 dias, segundo mostram as projeções da AgResource Brasil, as chuvas deverão ser bastante intensas, com acumulados que podem chegar a até 200 mm nos estados do Missouri, Arkansas e na metade sul de Illinois. “A ARC Brasil alerta que tais chuvas podem causar pequenas inundações localizadas e encostamento do solo – visto que a maioria dos solos norte-americanos apresentam textura com alto teor de argila. Solos com saturação de chuvas junto com temperaturas mais frias do que o normal poderá atrasar o plantio e a emergência da soja e milho no país”.
Demanda
Na contramão, a demanda – ainda muito intensa não só nos EUA ou na América do Sul, como em ambos os fornecedores – continua sendo o principal pilar de suporte para as cotações. “Os preços no mercado físico brasileiro apresentaram leve recuperação com dólar levemente mais alto e demanda por grão sul-americano perdurando em altos volumes”, informa a AgResource Company Brasil (ARC Brasil).
Os últimos números dos reportes semanais do USDA (Departameto de Agricultura dos Estados Unidos) mostram que já foram embarcados 89% das 55,11 milhões de toneladas projetadas para exportação, enquanto o total comprometido com essas vendas externas já supera em mais de 600 mil toneladas essa estimativa.
E para alguns analistas internacionais, a atual fraqueza do dólar no cenário internacional poderia motivar ainda mais a procura pela soja norte-americana, o que já pode ser observado nas posições julho e agosto – motivada também pela retração vendedora no Brasil.
Por aqui, os embarques continuam acontecendo de forma bastante satisfatória e devem bater novo recorde para o mês agora em abril. Somente neste mês, o acumulado é de 7.580,7 milhões de toneladas. “Com os dados divulgados nesta segunda-feira (24) pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil conta atualmente com um acumulado de embarques neste ano de 20,981 milhões de toneladas, sendo que no mesmo período do ano passado contava com 18,306 milhões toneladas e era recorde de exportações acumuladas até o momento”, explica Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting.
Dólar e preços no Brasil
A cena política interna, por sua vez, vem contribuindo com a formação das cotações no Brasil. Nesta quarta, o dólar voltou a subir forte diante da preocupação de investidores sobre o futuro e o andamento das reformas no Brasil, as quais vêm enfrentando alguns obstáculos no Congresso Nacional. Com isso, a divisa chegou a se aproximar, na máxima do dia, dos R$ 3,20.
“O risco político ganhou incremento com a derrota parcial do governo, o que também reforça a demanda pela divisa norte-americana”, informou a corretora Lerosa Investimentos em relatório, segundo a agência de notícias Reuters.
Dessa forma, os preços da soja nos portos do Brasil conseguiram, nesta quarta, acumular novas altas, principalmente no porto de Paranaguá. No terminal, o disponível foi a R$ 68,50, com alta de 0,74%, e a referência para junho a R$ 69,50 por saca, subindo 0,72%. Já em Rio Grande, estabilidade em, respectivamente, R$ 67,50 e R$ 68,00.
A volatilidade típica esperada para este período da temporada, como explica Ênio Fernandes, deverá, portanto, trazer algumas oportunidades para vendas, inclusive para o produtor brasileiro nestes próximos meses. “Ele deve encontrar espaço para participar do mercado entre maio e agosto, mas não pode se precipitar para vender muito rápido, tem que ir participando aos poucos”, diz.