O movimento de correção que vinha sendo esperado por analistas e consultores de mercado entre os preços da soja negociados na Bolsa de Chicago foi confirmado na sessão desta quinta-feira e os futuros da oleaginosa despencaram mais de 40 pontos entre as posições mais negociadas, e perderam o patamar dos US$ 10 por bushel. O mercado internacional foi, ao longo do dia, intensificando suas baixas com os fundos de volta à ponta vendedora, com previsões mostrando alguma melhora nas chuvas do Meio-Oeste americano e também frente a alguns dos últimos números do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
O mercado devolveu, portanto, boa parte dos últimos ganhos registrados na CBOT. Em um movimento rápido e forte de alta, somente nos primeiros 11 dias de julho, o avanço foi de US$ 1,20 por bushel no contrato novembro. O mesmo fechou o dia hoje cedendo 46,50 pontos -ou 4,5%, com US$ 9,87 /bushel.
Como explica o analista de mercado Matheus Pereira, da AgResource Brasil, de Chicago, explica que o mercado vem corrigindo as últimas altas, entre outros fatores, se concentrando na volta das chuvas no curto prazo. O executivo explica, porém, que trata-se de chuvas localizadas, bem pontuais, chegando, principalmente, a Indiana, Ohio e norte de Illinois. “O volume de operações hoje ficou muito além do previsto. O reuco foi bem agressivo, mas sim, há motivos para esta pressão no mercado neste pregão”, diz Pereira.
Para os próximos cinco dias, de acordo com as últimas previsões do NOAA, o serviço oficial de clima do governo norte-americano, as chuvas são mais expressivas e volumosas do que as observadas há algumas semanas, incluindo a região Oeste, apesar de ainda limitadas. E para o Oeste do Meio-Oeste norte-americano, nos próximos sete dias, os volumes são ainda mais expressivos, porém, de forma ainda pontual e também limitada. Para este intervalo, são esperados acumulados de 6,35 mm de chuvas para as Dakotas e no Nebraska. No Kansas, os índices podem ser ligeiramente maiores.
E de acordo com informações apuradas pela própria AgResource Brasil, a massa de ar quente que vinha estacionada sobre o oeste dos Estados Unidos começa a se deslocar lentamente sentindo leste, atingindo parte das Planícies e o oeste do cinturão produtivo na próxima semana, o que poderia manter as precipitações limitadas até o fim de julho.
Há, porém, algumas divergências entre os principais modelos climáticos e enquanto isso persistir, como explica o diretor da Labhoro Corretora, Ginaldo Sousa, o mercado deve seguir intenso e buscando uma direção melhor definida. “Voltamos a bater na tecla que estamos em um importante Mercado Climático e enquanto os modelos meteorológicos não entrarem em sintonia, principalmente com relação ao sistema de alta pressão e os mapas não mostrarem definição, os preços devem continuar voláteis em Chicago”, diz.
O aumento indicado pelo USDA em seu reporte mensal de oferta e demanda na safra norte-americana – para 115,94 milhões de toneladas – também ainda pesa sobre as cotações em Chicago, como explica o economista e analista de mercado Camilo Motter, da Granoeste Corretora de Cereais.
“O mercado segue repercutindo o aumento da oferta norte-americana, conforme divulgado pelo USDA nesta quarta-feira, e também a onda de chuvas que atinge boa parte do Meio Oeste. Por outro lado, a previsão de menores estoques e a continuidade do clima quente e seco em extensas áreas das Planícies (porção a oeste da região produtora) limitam as perdas”, diz Motter.
Com estes fatores, o movimento de venda de posições por partes dos fundos investidores foi bastante acentuado nesta quinta-feira. “As previsões de um tempo um pouco mais úmido e gráficos baixistas intensificaram a pressão das vendas nesta sessão”, explicou o analista sênior do portal internacional Farm Futures, Bryce Knorr. A soja liderou, portanto, as baixas no mercado de grãos.
Negócios travaram no Brasil
Com a forte queda das cotações no mercado futuro norte-americano, os negócios com a soja ficaram completamente travados no mercado brasileiro nesta quinta-feira, segundo Ênio Fernandes, consultor em agronegócio da Terra Agronegócios. “Essa queda chega em um momento em que o dólar também está em um outro patamar e isso deixou os negócios parados”, disse.
Para Fernandes, o mercado internacional exagerou na baixa e o mercado climático ainda não desempenhou todo seu papel sobre o andamento das cotações na Bolsa de Chicago. Dessa forma, o consultor acredita que novas oportunidades poderão vir para os produtores brasileiros nas próximas semanas.
“Os mapas para os próximos sete dias mostram chuvas para as Dakotas e o Nebraska, mas são limitadas e a situação por lá é bastante séria nesse momento. Então, ainda tem muita coisa para acontecer para a safra americana. Assim, as produtividades de 48 bushels por acre para a soja e de 170,7 para o milho estimados pelo USDA serão difíceis de ser alcançadas. Ainda não terminamos o mercado de clima”, explica o consultor. Além disso, ele lembra ainda que essas baixas podem ser, inclusive, oportunidade de compra para alguns players.
O impacto das perdas de mais de 40 pontos em Chicago levaram a referência da soja disponível a fechar com R$ 71,00 por saca no porto de Paranaguá e R$ 70,60 no terminal de Rio Grande. Os preços afastaram os vendedores e, ainda segundo o consultor da Terra, quando eles voltarem ao intervalo dos R$ 75 aos R$ 77 por saca, os negócios devem voltar a rodar. “O produtor está muito maduro, cada vez mais profissional e sabe aproveitar suas oportunidades”, acredita.
O recuo foi observado também entre os indicativos da safra nova, que terminaram o dia com R$ 73,00 no terminal paranaense e com R$ 74,50 no gaúcho. Os preços se aproximaram dos R$ 80 nos últimos dias e acabaram adiantando o ritmo de comercialização da safra nova também, além da velha, e isso foi importante para as venda que vinham atrasadas nesta temporada.