Na primeira sessão depois do feriado do Memorial Day nos EUA realizada na Bolsa de Chicago, o mercado da soja deixou de lado a estabilidade com a qual começou o dia e encerrou os negócios perdendo mais de 10 pontos entre as posições mais negócios. O vencimento julho/18 terminou o pregão sendo negociado a US$ 10,30 por bushel, caindo 11 pontos, e o setembro/18 com US$ 10,38, recuando 10,75 pontos.
A notícia de que os Estados Unidos irão manter algumas ações comerciais contra a China voltou a pesar sobre as cotações. Segundo informou a Casa Branca nesta terça-feira, o governo americano deverá divulgar uma lista com, aproximadamente, US$ 50 bilhões em mercadorias chinesas que deverão começar a ser tarifadas a partir de 15 de junho próximo.
As especulações sobre a possibilidade, portanto, de haver uma retaliação por parte da nação asiática sobre a soja americana, como aconteceu com o sorgo, volta, portanto, a assombrar os traders e estimula, como explicam analistas internacionais, os fundos investidores a deixarem parte de suas posições na oleaginosa.
Ainda pesando sobre os preços, o fortalecimento do dólar frente a uma série de moedas internacionais também teve seu espaço entre as negociações desta terça. “A força do dólar é como uma âncora para todo o mercado, que foi ainda mais pressionado pelas manchetes da disputa entre China e EUA”, diz Don Roose, presidente da U.S. Commodities.
No Brasil, o dólar fechou o dia com alta de 1,64% e valendo R$ 3,7286. Nos últimos quatro pregões, a moeda já acumula uma alta de 3,15% e, no mês, o ganho se aproxima dos 7%. A aversão ao risco no cenário externo e mais as preocupações com a séria crise interna que se instalou no Brasil com a paralisação dos caminhoneiros foram combustível para o avanço.
Complementando o ambiente negativo para as cotações da soja no mercado de Chicago, os números dos embarques semanais norte-americanos reportados pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) também contribuíram.
Na semana encerrada em 24 de maio, os EUA embarcaram 576,406 mil toneladas de soja, contra mais de 900 mil da semana anterior. O volume ficou, porém, dentro das expectativas do mercado, que variavam de 490 mil a 630 mil toneladas. No acumulado da temporada, o volume de soja embarcada já é de 46.234,782 milhões de toneladas, contra mais de 50 milhões do ano passado.
Na outra ponta, os traders acompanham também a paralisação dos caminhonheiros no Brasil, que entra em seu nono dia nesta terça-feira. Segundo analistas internacionais, problemas de oferta de soja no país em função da impossibilidade de movimentação poderiam dar algum suporte aos preços na CBOT.
Mercado no Brasil
No Brasil, com a logística travada e quase nenhum negócio podendo ser efetivado, os preços mantiveram sua estabilidade em praticamente todas as principais praças de comercialização do país. As principais referências continuam acima dos R$ 70 por saca, com exceção de alguns pontos do Paraná, onde os preços ainda estão acima dos R$ 80.
Já nos portos, algumas mudanças foram notadas entre os indicativos. A soja disponível no terminal de Rio Grande perdeu 0,46% para R$ 86 por saca e para junho/18 foi a R$ 86,50, com queda de 0,57%. Em Paranaguá, estabilidade nos R$ 87 para o produto disponível e alta de 1,15% no futuro – referência março/19 – para R$ 88, com o preço acompanhando a alta do dólar.
“Alguns exportadores (de soja) já estão informando as contrapartes sobre a possibilidade de ‘default’. Alguns associados já estão analisando a possibilidade de declarar ‘força maior'”, disse o assistente executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Lucas Trindade, à Reuters, sem revelar nomes.