O dólar despencou nesta quarta-feira. Somente frente ao real, a divisa encerrou o dia com perda de 1,35% e valendo R$ 3,2183, se aproximando do patamar dos R$ 3,20, o qual, segundo informa a agência de notícias Reuters, foi registrado pela última vez em 9 de novembro do ano passado. No quadro externo, o dólar caiu diante da cesta de principais moedas, deixando para trás a máxima em 14 anos alcançada recentemente.
Uma melhora no quadro internacional, principalmente nas perspectivas para a economia dos Estados Unidos, parece ter trazido algum fôlego aos traders, que aumentaram seu apetite ao risco, migrando de ativos mais sensíveis – como a moeda americana – para outros mais sensíveis, como as commodities, as quais subiram de forma generalizada nesta sessão. O índice PMI da Zona do Euro e da China, por exemplo, apontaram melhores ritmos da atividade industrial e foram bem recebidos.
E nesse ambiente, os preços da soja conseguiram recuperar boa parte das perdas dos últimos pregões para encerrar o desta quarta com altas de quase 20 pontos entre as principais posições negociadas na Bolsa de Chicago. Assim, o indicativo para a safra do Brasil – contrato maio/17 – encerrou o dia, novamente, superando os US$ 10,20 por bushel.
Para o economista Guilherme Zanin, da Apexsim Inteligência e Mercado, o dólar, porém, tem espaço para voltar a subir. Além de estar, graficamente, perto de seu suporte, a volatilidade antes da posse do novo presidente norte-americano, Donald Trump, o Federal Reserve indicando novas altas dos juros nos EUA este ano estão no radar dos players. “Então, todos os fundamentos indicam que o dólar deveria subir”, diz Zanin.
Fundamentos
Além do suporte da baixa do dólar, parte dos fundamentos também criaram uma conjunção para os ganhos fortes registrados nesta sessão. Como explicou o analista de mercado da Price Futures, Jack Scoville, em entrevista ao Notícias Agrícolas, direto de Chicago, os fundos compraram muito nesta sessão de quarta-feira e seguem de olho no cenário climático da América do Sul.
Apesar das boas perspectivas para a safra brasileira, a falta de chuvas em regiões como o Matopiba e pontos do Sudeste já trazem preocupações. No Noroeste de Minas Gerais, por exemplo, o veranico que vem sendo registrado já ocasiona perdas significativas. A região que tem sofrido com temperaturas médias na casa de 35ºC, porém, acredita que o retorno das chuvas poderia trazer a recuperação de parte do potencial produtivo das lavouras, segundo relata o produtor João Alves da Fonseca, de Paracatu.
Em Rio Verde, Goiás, a situação é semelhante, porém, com perdas consolidadas. Na fase chave de enchimento de grãos, as lavouras sofrem uma baixa de produtividade a cada novo dia sem chuvas que, em algumas áreas, já chega a 18 dias, de acordo com o diretor do sindicato rural do município, José Roberto Brucelli. De acordo com as últimas previsões, novas chuvas somente na semana que vem.
Na Argentina, enquanto algumas áreas estão debaixo d’água, outras sofrem até mesmo a ocorrência de incêndios com a combinação do clima seco, altas temperaturas e descargas elétricas. Assim, a produção local de soja ainda é incerta e, para o consultor internacional Michael Cordonnier, o país poderia deixar de plantar mais de 1 milhão de hectares nessa temporada em função das adversidades.
“É difícil fazer uma estimativa apurada da extensão das inundações durante o período de festas, mas já é sabido que 450 mil hectares estão em estado de emergência”, diz Cordonnier.
Enquanto a safra sulamericana não é definida – e a colheita se desenvolve em estados como Mato Grosso e Paraná – os produtores norte-americanos, ainda segundo Scoville, evitam novas vendas, o que também dá suporte às cotações, principalmente em um momento em que a demanda, mesmo menos intensa do que o observado há alguns meses, segue forte. Tanto as vendas quantos os embarques americanos superam largamente os números da safra anterior.
“Os produtores americanos já venderam boa parte da sua safra e agora vão esperar por melhores preços, algo entre US$ 10,25 e US$ 10,50 para voltar a vender”, diz o analista internacional.
Mercado Brasileiro
Nos portos do Brasil, apesar do forte recuo do dólar, os preços terminaram o dia com altas de mais de 1% nesta quarta-feira. Em Rio Grande, o disponível subiu 1,20% para R$ 75,90 por saca, enquanto, no mercado futuro o ganho foi de 0,26% para R$ 78,50. Em Paranaguá, as referências são de R$ 75,00 em ambos os casos, com um avanço de 1,35%.
No disponível, os preços caminharam na contramão e recuaram na maior parte das praças de comercialização pesquisadas pelo Notícias Agrícolas. As baixas variaram entre 0,78% e 4,25%, com as referências do Sul do Brasil perdendo os R$ 70 em locais como Não-Me-Toque e Panambi, no Rio Grande do Sul, e Londrina, Ubiratã e Cascavel, no Paraná.
As exceções desta quarta ficaram por Campo Novo do Parecis e Tangará da Serra, ambas praças de Mato Grosso, onde o preço subiu 1,75% para R$ 58 a saca da soja.
Fonte: Notícias Agrícolas