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As chuvas intensas em Mato Grosso têm trazido bastante preocupação aos produtores de soja já que os problemas não ficam só da porteira para dentro. As condições climáticas no estado têm feito com que o volume de soja com níveis de umidade maior do que o ideal exija mais da capacidade dos secadores e dos armazéns neste período de pós colheita. Afinal, a umidade é um dos fatores que tira parte da renda do sojicultor e tem que entrar na conta nesse momento em que a comercialização do restante da safra 2016/17 ainda será realizada.
Segundo o produtor rural de Sapezal, Evandro Graeff, algumas mudanças nos sistemas de descontos na hora da entrega da soja preocupam o setor nesta safra, já que alguns recebedores estão trabalhando com uma escala progressiva para esta cobrança. “Esse ano, chegou a sair soja do campo com até 28%, 34% de umidade. Assim, os descontos são maiores e o custo do produtor sobe mais ainda”, explica.
Atualmente, o padrão médio de umidade esperado para a soja é de 14% e a cada ponto acima disso dá espaço para um desconto que, entre algumas tradings, cerealistas e cooperativas, varia de 1,5% a até 1,8%, proporcionalmente, o que anteriormente ficava em 1,5%.
Cada uma das empresas que recebe esse grão pode regular sua tabela de preços e é livre para mudá-la. E os pontos e padrões são definidos de acordo com o fluxo da descarga e outros aspectos, tais como a quantidade que é recebida nos armazéns diante das compras antecipadas ou dos acordos de barter firmados antecipadamente. “Esse desconto será aplicado sobre o peso total do produto entregue, já descontada a porcentagem de impureza. Assim, após esses descontos, o peso final será considerado o total de produto entregue pelo produtor ao armazém e, portanto, será por essa quantidade que o comprador pagará o produtor”, explica o Projeto Benin – Mensuração das Ineficiências Logísticas no Agronegócio Paranaense, da Esalq-LOG.
Assim, os custos com logística do produtor serão, inevitavelmente, maiores. Na semana passada, com os secadores de grãos operando com sua capacidade limitada em função desses níveis mais elevados de umidade, alguns caminhões chegarão a ficar até 24 horas em filas na frente dos armazéns para descarregar a soja. “Com isso, tivemos que contratar mais caminhões, e o custo sobe”, relata Graeff. “Se um secador tem capacidade para secar 100 toneladas por hora, ele estava trabalhando com cerca de 33 toneladas/hora”, diz.
Apesar desses problemas pontuais, ainda não há, porém, perdas de soja por qualidade, segundo explica o presidente do Sindicato Rural de Sorriso, Luimar Gemi. A colheita tem se desenvolvido com um bom ritmo na região e há algumas lavouras que, em determinadas áreas, ainda estão sendo concluídas e seguem em fase de definição de sua produtividade e que, portanto, recebem bem essas chuvas.
Mesmo assim, segundo Gemi, a atenção dos produtores segue redobrada nesta safra com as previsões de mais chuvas para os próximos dias. Caso elas continuem acontecendo e de forma intensa, com a confirmação de uma invernada, “há dois problemas sérios que podem acontecer que são a perda de qualidade e os transtornos logísticos. Mas, por enquanto, ainda não tivemos problemas sérios, somente pontuais e logo após as chuvas”.
Enquanto isso, sobem os fretes em um movimento também típico para este período da safra. Na rota Sorriso – Porto de Paranaguá, o valor está próximo de R$ 300,00 por tonelada, ainda como informa o presidente do sindicato. “Em cada época do ano temos um preço. Mas, com a alta do diesel, devemos ter valores mais altos durante todo o ano em relação ao ano passado”, salienta.
A orientação do vice-presidente da Aprosoja Mato Grosso, Elso Pozzobon, é de que o produtor continue atento às previsões climáticas – já que o excesso de chuvas segue preocupando muito – além de traçar suas estratégias de comercialização daqui em diante. “O produtor rural tem que ter controle sobre seus custos de produção, ele precisa saber quanto custa o produto que tira do campo”, diz.
E por isso, tem de incluir rigorosamente esses custos com logística, especialmente em anos que – apesar da normalidade registrada até esse momento – as condições de clima podem criar cenários adversos. “Com tudo caminhando como está até agora, temos um ano muito bom, com a produtividade melhor do que no passado, o que já está evidente. E com uma produtividade esperada para ser cerca de 10% maior (do que a da safra passada), os custos mais altos podem ser compensados”, acredita Pozzobon.
Ainda segundo o vice-presidente, os preços da soja têm espaço para recuperação e melhores oportunidades podem aparecer para novos negócios, com momentos de “preços de equilíbrio”. “Essa baixa faz parte do mercado”, conclui.
Fonte: Só Notícias/Agronotícias (foto: Só Notícias/Luiz Ornaghi/arquivo)