Nos últimos sete dias, os preços da soja no mercado brasileiro perderam até 7,35% no interior do Brasil e acumularam uma nova semana bastante negativa para o produtor brasileiro. As principais referências perderam de R$ 1,00 a até a R$ 5,00 por saca na maior parte das praças de comercialização pesquisadas pelo Notícias Agrícolas e, portanto, afastando ainda mais os sojicultores das vendas.
As referências atuais – que se colocadas em dólar chegam a ser mais elevadas do que as observadas no ano passado – não remuneram o produtor em boa parte do país, e têm variado entre R$ 55,50 por saca – em Campo Novo do Parecis/MT – a R$ 69 – como é o caso de de Ponta Grossa/PR. Nos portos, no balanço semanal, as perdas fpram de até 4,05% – ou R$ 3 por saca – e os indicativos estão cada vez mais próximos dos R$ 70.
No terminal de Rio Grande, R$ 72,20 no disponível e R$ 74 por saca no mercado futuro. Já em Paranaguá, as referência para ambos os casos foi a R$ 71. Em Santos, R$ 71,90 e no porto de Imbituba, R$ 72 como último preço.
As vendas paradas no Brasil já sentem os efeitos não só dos preços baixos, mas agora são afetadas também pelos problemas logísticos que têm se agravado em importantes regiões do Brasil. O excesso de chuvas das últimas têm prejudicado o escoamento da nova safra, elevando o valor dos fretes pagos pelos sojicultores – apertando ainda mais suas margens – e o destaque neste final de semana foi o congestionamento na BM-163 no trecho que leva a soja de Mato Grosso para o porto de Miritituba, no Pará.
Os caminhões estão há mais de 10 dias parados na estrada, em trechos de atoleiros com tradings, transportadoras, caminhoneiros autônomos – alguns com suas famílias – e, claro, os produtores, sofrendo com uma situação de caos que foi instalada na região. São mais de 4 mil caminhões paralisados.
“O Nortão de Mato Grosso já está sem espaço para recebimento. Justamente em um momento crítico, onde estamos colhendo soja com um alto grau de avariados, devido as chuvas da semana passada e que pode comprometer a qualidade do grãos dentro dos armazéns”, diz Luiz Felipe Di Domênico, diretor da DDB Agronegócios.
Nesse quadro, segundo o diretor da Labhoro Corretora, Ginaldo de Sousa, nos últimos 15 dias, a comercialização do Brasil não evoluiu. Sem novos negócios – e mesmo com os prêmios positivos e ainda em patamares altos, apesar da chegada da produção brasileira – os navios continuam chegando aos portos nacionais, mas sem produto garantido para o embarque.
“O produtor brasileiro está retendo soja, naturalmente, na expectativa de uma melhora de preços, o que poderia ajudar os prêmios. Mas, por outro lado, ele vai ter que desovar esse produto, entregar, fixar, fazer contratos a fixar, e a soja vai ter que sair. A soja tendo que sair, o prêmio tem que cair. A oferta brasileira é tão grande, que uma hora vai ter que sair”, diz Sousa.
Como explica o diretor da Labhoro, “a comercialização está praticamente estagnada” e a preocupação passa a crescer com os problemas que podem vir mais adiante, principalmente com um custo maior que o sojicultor possa ter para carregar esta soja. “Não temos uma perspectiva, hoje, nem de Chicago subir e nem de o dólar subir. Com isso, cada um tem que decidir o que fazer com sua soja”, explica.
Questão Cambial
Nesta sexta-feira, o dólar fechou seus negócios pré-carnaval com um ajuste e subindo 1,86% para ser cotado a R$ 3,1133. “É normal o mercado se proteger em feriados longos. Isso não significa mudança na trajetória de baixa (do dólar)”, comentou um profissional da mesa de câmbio de uma corretora nacional à Reuters.
A divisa, porém, acumula seu terceiro mês de queda, recuando 1,20% e, nos últimos três meses, 8,09%. A mudança de trajetória, no entanto, como explicam especialistas, segue sendo de queda da moeda americana, valorização do real e, na medida em que esse movimento se confirma, o espaço para uma recuperação dos preços da soja no Brasil ficam cada vez mais estreito.
Bolsa de Chicago
No mercado internacional, a movimentação também não contribuiu. Os principais vencimentos perderam mais de 1,8%, com o março/17 de volta aos US$ 10,13 por bushel, e o maio/17, referência para o Brasil, a US$ 10,24. E uma reversão desse movimento, ainda segundo Ginaldo de Sousa, poderia vir somente com problemas climáticos para a nova safra dos EUA. “O mercado não tem uma notícia fundamental que abone um movimento altista agora”, diz.
A semana para os preços internacionais, porém, foi marcada pela chegada das primeiras projeções para a safra 2017/18 pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). A entidade finalizou o anual Outlook Forum, realizado nestas quinta e sexta-feira com projeções de uma área maior no país, porém, uma produtividade mais baixa do que na temporada anterior e, consequentemente, uma safra menor do que a 2016/17.
O impacto dos novos números sobre os preços, porém, parece ter sido limitado e insuficientes para promover uma mudança significativa entre as principais posições praticadas na CBOT. Na sessão desta sexta, os vencimentos mais negociadas encerraram o dia apenas com baixas de pouco mais de 2 pontos.
Fonte: Notícias Agrícolas