Os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago voltaram a recuar na sessão desta segunda-feira e encerraram os negócios em campo negativo. O vencimento maio/17 foi a US$ 9,38 por bushel, cedendo 7,75 pontos, e o setembro/17 a US$ 9,50, com queda de 6 pontos. As cotações até testaram, mais cedo, o lado positivo da tabela, mas não tiveram forças para se sustentar.
Os preços da commodity na CBOT são os menores em cinco meses e meio e a pressão sobre eles ainda é bastante intensa, segundo explicam analistas e consultores de mercado. “A pressão da área maior projetada pelos EUA deverá permanecer no foco ainda por um tempo, particularmente na medida em que os analistas continuam subindo suas estimativas para a safra da América do Sul”, acredita o analista internacional Bob Burgdorfer.
A migração dos fatores que direcionam os preços já é um fator conhecido pelos traders e esse é um momento típico desse comportamento do mercado, e o peso da safra nova dos Estados Unidos é cada vez maior. “O risco climático nos EUA agora tem um maior peso na formulação dos preços em Chicago e todo ano os players deste mercado especulam possíveis intempéries”, explica Matheus Pereira, analista de mercado da AgResource Brasil (ARC Brasil).
Além disso, ainda segundo lembra Pereira, a oferta maior de tecnologia traz ao mercado ainda mais de um modelo de previsão climática, o que acaba por acentuar ainda mais a volatilidade das cotações no mercado futuro. “E sempre algum desses ‘modelos climáticos’ acham pontos de stress ou de preocupação para safra”, diz o analista.
Para Paul Georgy, analista da consultoria internacional Allendale, o mercado já começa a observar a possibilidade de um leve atraso para o início do plantio da nova temporada no Corn Belt, além de acompanhar com atenção as previsões de clima para as principais regiões produtoras norte-americanas.
A oferta que virá dos EUA, porém, vai dividir espaço com as informações de uma demanda ainda muito forte por parte dos principais importadores globais. Nesta segunda, os novos números do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) indicaram os embarques norte-americanos totais do ano comercial em quase 47 milhões de toneladas, das 55,1 milhões toneladas projetadas para a exportação pelo país neste ano comercial.
“Isso confirma que a demanda global vai ser bem maior do que o USDA vinha apontando. E os compradores estão vendo oportunidades para os compradores, a soja ficou barata e chamou esses compradores”, explica Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting. “Temos visto muito comprador novo, que tradicionalmente levam volumes pequenos, levando volumes mais interessantes e isso é positivo. O foco principal é a demanda da China, mas estamos cheios de compradores novos, no global do negócio, o mercado está acelerado. Assim, a demanda vai ter que ser ajustada também, não só a oferta”, completa o consultor.
Essas notícias e esses ajustes que são esperados – e que podem não vir no curto prazo – pode motivar uma retomada das cotações, levando a um ajuste do mercado. “O lado consumidor está muito mais agressivo do que o USDA apontou” acredita Brandalizze.
Soja no Brasil
No Brasil, os embarques também seguem fluindo de forma bastante significativa e registrando recordes. De acordo com números da Secretaria de Comércio do Exterior (Secex), o país embarcou, no acumulado do ano, 16,9 milhões de toneladas, porém, desses volumes, como diz Brandalizze, 99% referem-se a negócios feitos anteriormente. “Isso aconteceu porque o dólaer continuou baixo, Chicago em queda, isso mantém os produtores fora dos negócios”, explica.
Com uma baixa de 0,51% do dólar nesta segunda, que levou a um fechamento de R$ 3,115, os preços da oleaginosa brasileira tiveram um novo dia de perdas, com as referências nos portos, por exemplo, terminando os negócios entre R$ 64,00 e R$ 66,20 por saca. “E há alguns meses, os indicativos variavam de R$ 90,00 a R$ 95,00 por saca, nos melhores momentos. A diferença é muito grande”, relata o consultor.
No interior, os indicativos caíram em quase todas as principais praças de comercialização, registrando perdas de até 2,35%.