Dirigentes da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), Sindicato Rural de Sinop e Fundação Rio Verde se reuniram, esta tarde, em Sinop com produtores rurais da região para debater e contestar a recomendação do Ministério Público, feita em janeiro, para a suspensão do plantio e projeto de pesquisa “análise comparativa de severidade foliar da ferrugem asiática em lavouras de soja semeadas em dezembro e fevereiro na safra 2019/20”.
O projeto é encabeçado pela Aprosoja e tem como objetivo comprovar cientificamente que o melhor período para o plantio e para se produzir a própria semente seria fevereiro, e não dezembro como ocorre atualmente. “Essa discussão se arrasta desde 2015, quando houve a criação da instrução normativa, da calendarização do plantio, que nunca fomos favoráveis. Agora queremos mostrar o que já é um conhecimento do produtor, pela prática e experiência. Justamente para desmistificar esse período (fevereiro) e mostrar que é mais propício para o plantio com qualidade, e tem menos chances da soja ser afetada pela ferrugem”, destacou o presidente da Aprosoja, Antônio Galvan.
Galvan fez duras críticas ao MP, que em sua recomendação alegou que o plantio em fevereiro poderia criar problemas ambientais, com o aumento de aplicações de agrotóxicos, além de citar a questão fitossanitária. “O problema real do MP é econômico. Porque as grandes indústrias vão vender menos fungicidas e inseticida no período, e também vem a questão da semente, porque o cara que multiplica a semente, não quer que tenha melhor período para o produtor poder fazer a própria do uso dele, que a lei nos dá direito, então eles tentam dificultar a data e você tem que comprar. Com essa pesquisa regularíamos tempo e mercado, e queremos comprovar isso cientificamente”, salientou.
Conforme o diretor da Fundação Rio Verde e um dos responsáveis pela pesquisa técnica, Rodrigo Pasquali, o apontamento de danos ambientais do MP não tem fundamento, já que com o plantio no mês de fevereiro, o uso de inseticidas é menor. “Fazemos o acompanhamento técnico e a avaliação em cima do risco sanitário, o que essa doença realmente expressa na nossa região. O que temos de conclusão é que a hipótese se concretizou, onde a doença tem menos propensão, infecção, contágio nas plantas em fevereiro. Pelo conhecimento técnico científico, temos a tendência que nessa época há um fator climático preponderante para menor infestação doença, logo temos menos uso de defensivos. Porque a praga precisa de umidade, chuva e o hospedeiro, que é a soja, mas plantando em fevereiro, a tendência é ter menos umidade porque chove menos, a chance de dar esse surto da ferrugem é menor”, avaliou.
Já o presidente do Sindicato Rural, Ilson Redivo, apontou que a recomendação do MP foi recebida com muita surpresa. “Primeiro porque acho que isso é uma coisa eminentemente técnica, o que buscamos com esse campo de produção entre fevereiro e dezembro, feitos lado a lado, é justamente provar que fevereiro é uma época melhor. Então suspender que se faça pesquisa, é uma coisa que ao meu ver não me parece muito aceitável”. “Plantar nesse período pesquisado, respeitando a lei, só trás benefícios ao produtor, ele consegue baratear custos, produzir uma semente com mais qualidade, e menos incidência da ferrugem, mas infelizmente isso é questionado pelos sementeiros”, pontuou.
O produtor rural Adilson Jacinto, defendeu que o projeto deve ter sequência para dar mais opções ao agricultor. “Se plantarmos em fevereiro, faremos no máximo cinco aplicações de inseticidas, em dezembro esse número sobe para até dez, então para nós é fundamental que essa pesquisa tenha continuidade, para comprovarmos nossa tese e essa seja uma ação possível, de plantar fora da época, de se fazer dentro da lei, dentro da legalidade. É necessário que se conclua essa pesquisa, para que tudo fique da maneira correta. É o financeiro, agregado com a garantia da qualidade da semente. Há uma redução de custos, principalmente para o pequeno e médio produtor”, completou.
Na reunião, os responsáveis apontaram que preliminarmente o estudo está sendo trabalhado em Mato Grosso, com três frentes regionais, sendo uma no Norte, no Sul e Oeste, em decorrência das diferenças de clima, topografia, solo, de manejo em cada região. No entanto, futuramente o objetivo é traçar esse linear das regiões do Estado e levar para o restante do Brasil. Inclusive, em consulta ao Ministério da Agricultura, os envolvidos sugeriram expandir esse protocolo no meio acadêmico em âmbito nacional.
Após o encontro, no Sindicato Rural, os representantes de entidades e produtores foram até uma fazenda onde a pesquisa está sendo desenvolvida. Em um campo visitado, há amostras de semente plantadas em dezembro, em outro, as que de fevereiro e ambos estão lado a lado, para demonstração das diferenças de cada período.
Conforme Só Notícias já informou, a recomendação do MP notificou também o secretário de estadual Desenvolvimento Econômico, Cezar Miranda, e o Instituto de Defesa Agropecuária do Estado (Indea). “A notificação busca evitar a disseminação da ferrugem asiática, considerada a pior praga da cultura da soja. A propagação dessa doença poderá implicar em prejuízos consideráveis à produção de soja e ao Estado de Mato Grosso. Além disso poderá representar graves consequências ao meio ambiente, com o aumento considerável de aplicações de agrotóxicos, com a poluição do ar, água, solo e risco de contaminação da população”, explicou o MP à época.