Os produtores Otávio Tissiani, de Nova Mutum, e Paulo de Oliveira Neto, de Vera (90 quilômetros de Sinop) demonstraram que é possível e rentável fazer manejo integrado de pragas em grandes áreas de lavoura durante a feira Show Safra BR 163, que começou na última terça-feira e termina manhã. De acordo com a assessoria Embrapa Agrossilvipastoril, eles ajudaram a desmistificar a ideia de que o manejo só dá certo em áreas pequenas e experimentais.
Tissiani mostrou dados que monitorou na safra 2013/2014, período em que o surgimento da lagarta Helicoverpa armigera causou grande preocupação nos produtores. Naquela safra, o monitoramento de 600 hectares de lavoura de soja fez com que a primeira aplicação de inseticida fosse feita 60 dias após a semeadura. “No monitoramento eu via muitos insetos na lavoura, mas poucos deles eram insetos-praga” afirmou.
Ao fim da safra, com menor número de pulverizações de inseticidas, foi possível colher as mesmas 65,5 sacas que em outro talhão com a mesma cultivar de soja, porém com uma economia de R$ 97 por hectare. Foram R$ 58.200 de economia graças ao monitoramento, de acordo com o produtor.
Já Neto explicou que a maior dificuldade na implantação do manejo integrado de praga é a opinião de terceiros, que não acreditam na técnica, criticam e geram uma pressão no produtor. Ele recomendou iniciar o trabalho em uma pequena área, para que possa ir aprendendo aos poucos e com uma consultoria de confiança. “O MIP não pode ser enfiado em uma fazenda. O produtor tem que demonstrar vontade e interesse. Ele precisa de um consultor, alguém que possa orientá-lo. Tem que ser alguém que passe confiança, pois no fim, envolve dinheiro”.
A experiência dele iniciou em um estágio que fez em uma grande propriedade. Em um talhão de 90 hectares ele conseguiu economizar R$ 88,14 por hectare fazendo o MIP, obtendo, inclusive, produtividade superior à área de referência.
O aprendizado no estágio foi levado para a propriedade da família, onde já chegou a passar a safra 2016/2017 sem qualquer aplicação de inseticida em alguns talhões de sua lavoura. Graças ao monitoramento, pôde ver que as pragas estavam presentes em níveis abaixo daqueles em que começam a causar danos. Outra observação é que muitas delas se encontravam debilitadas devido ao ataque de inimigos naturais, muito mais numerosos em áreas com MIP.
Para o pesquisador da Embrapa e mediador do debate, Rafael Pitta, não existe manejo certo ou errado. “Mesmo nos níveis mais baixos de controle, vimos, pelos dados apresentados, que em poucos casos esses níveis foram atingidos. Isso mostra o quanto estamos desperdiçando dinheiro em aplicações desnecessárias”, analisou o pesquisador.
Ainda de acordo com Pitta, a economia gerada pelo MIP custear facilmente a contratação de um técnico agrícola para fazer o monitoramento das pragas na lavoura e ainda ajudar em outras tarefas na propriedade.
Entre as estratégias usadas no MIP estão o controle varietal, com uso de materiais genéticos resistentes ou tolerantes a determinada praga, o controle biológico, com uso de inimigos naturais, como vírus, bactérias e outros insetos, controle comportamental com uso de feromônios e ainda o controle químico. Para introduzir o monitoramento, o MIP utiliza ferramentas como armadilhas luminosas, de solo ou de feromônio, panos de batida, além da observação nas plantas.