O mercado brasileiro da soja fechou os negócios desta terça-feira (17) com altas generalizadas nas principais praças de comercialização e portos do país. As cotações, mais uma vez, se valeram das altas que foram registradas pelo segundo dia consecutivo na Bolsa de Chicago aliadas aos prêmios muito fortes que continuam a ser oferecidos pelo produto nacional.
No quadro cambial, mesmo com um recuo observado nesta terça, a moeda americana ainda se mantém acima dos R$ 3,80 e favorece a formação dos preços no Brasil. Nesta sessão, o dólar fechou com R$ 3,8460 e queda de 0,49%. A baixa, de acordo com analistas ouvidos pela Reuters, se deu após as indicações de que a os juros nos EUA não deverão subir tão rápido quanto se esperava.
“A confirmação de aumento gradual de juros (nos EUA) ajuda”, afirmou o diretor da consultoria de valores mobiliários Wagner Investimentos, José Faria Júnior à agência de notícias. “Isso significa menos medo do Fed”, acrescentou, referindo-se ao Federal Reserve, banco central norte-americano.
Nesse ambiente, as altas no interior brasileiro chegaram a bater, somente nesta terça-feira, em 2,07%, como foi o caso de Não-Me-Toque/RS, onde o preço ficou em R$ 74,00 por saca. Em Rondonópolis, a alta foi de 1,03% para R$ 78,60 e em Brasília, de 4,11% para R$ 76,00.
No porto de Rio Grande, a soja disponível foi a R$ 87,60 com alta de 0,69% e, no de Paranaguá, a R$ 91,00, estável. Paraa agosto/18, a oleaginosa subiu 0,57% para chegar aos R$ 87,50. Já em Santos, a soja spot marcou uma alta de 3,51% oara voltar aos R$ 88,50.
A demanda intensa dos exportadores, especialmente a China, pela oleaginosa brasileira se mostra muito intensa e também dá importante impulso aos preços no mercado nacional. Segundo informou o analista Mário Mariano, da Novo Rumo Corretora, somente na última semana, os chineses compraram de 19 a 20 navios de soja brasileira – algo perto de 1,1 milhão de toneladas.
O movimento mostra que segue intenso apetite da nação asiática pela soja do Brasil e sua tentativa de evitar a oferta norte-americana, a qual está taxada pela China em 25% como forma de retaliação ás tarifas impostas pelo presidente Donald Trump aos produtos chineses importados pelos EUA.
Com isso, ainda como explicou Mariano, a soja brasileira já tem uma média de US$ 400 por tonelada, o que é um bom preço em dólares para o produto e mais um fator que estimula novos negócios nesta semana. Entretanto, o analista acredita que o mercado internacional deva continuar buscando sua retomada e buscar uma recuperação do patamar dos US$ 9,00 por bushel.
As exportações brasileiras de soja, só em julho, já superam 5,2 milhões de toneladas, de acordo com números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Os números do farelo e do óleo também são fortes, o que faz com que o total das vendas externas no complexo soja já acumulem 61,7 milhões de toneladas.
“A segunda semana deste mês de julho registrou um avanço importante, sinalizando que há muitos trens chegando (aos portos) e também caminhões que vêm de empresas que não necessitam de operar com a tabela dos fretes que continua inviabilizando os negócios novos”, explica Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting.
Para Vlamir, com o ritmo atual sendo mantido, as exportações brasileiras de soja em julho poderiam ultrapassar as 10 milhões de toneladas.
Segundo a presidente do Sindicato Rural de Campo Novo do Parecis/MT, Giovana Velke, as tradings voltaram às compras em Mato Grosso após várias semanas da comercialização travada. No entanto, explica ainda que essa movimentação foca mais no cumprimento de contratos fechados antecipadamente. A indefinição sobre os fretes, afinal, ainda preocupa.
Na Bolsa de Chicago, os futuros da soja fecharam o pregão desta terça-feira com altas de mais de 1%, novamente, e os principais contratos subindo entre 9,50 e 10 pontos. Assim, o agosto/18 ficou em US$ 8,39 por bushel, e o novembro/18, que é o mais negociado agora, com US$ 8,55.
Ainda segundo Mariano, o mercado internacional voltou a se focar na questão climática norte-americana, principalmente por conta da queda no índice de lavouras de soja em boas/excelentes condições nos EUA na última semana. Dessa forma, o analista acredita ainda que o mercado teria, inclusive, força para confirmar um viés de alta neste momento.
O boletim semanal de acompanhamento de safras do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) trouxe uma baixa no índice de lavouras em boas ou excelentes condições de 71% para 69% na semana e o número ficou ligeiramente mais baixo do que as expectativas. Embora a diferença seja ainda tímida, foi suficiente para dar algum fôlego a um mercado já muito sobrevendido.
Para Steve Cachia, diretor da Cerealpar e consultor do Kordin Grain Terminal, de Malta, porém, não há ainda uma nova tendência definida para o mercado até este momento.
Nas próximas semanas são esperadas temperaturas mais elevadas e chuvas um pouco mais pontuais no Meio-Oeste americano. “É interessante, mas ainda não o suficiente para reverter de vez a recente o diretor da Cerealpar.