Uma praga comum nos canaviais brasileiros está começando a causar estragos na cultura do sorgo. O pulgão-da-cana-de-açúcar (Melanaphis sacchari) passou a ser observado em lavouras de sorgo no Sul, Sudeste e no estado de Goiás há dois anos. Nessa safra, segundo a Embrapa Agrossilvipastoril, sediada em Sinop, a praga já tem sido vista em cultivos de verão em Mato Grosso.
O pulgão se aloja na parte de baixo das folhas do sorgo, de onde suga a seiva da planta. Pode também servir como vetor de viroses, ou até mesmo como porta de entrada para doenças, pelas lesões que causa na planta.
“Tanto em sua fase jovem quanto adulta, o pulgão suga a seiva da planta. Além disso, seus excrementos geram uma mela sobre as folhas, o que serve como meio de cultura para fungos oportunistas, fazendo aquela fumagina, uma camada preta que inibe a fotossíntese da folha”, explica Flávio Tardin, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo sediado na Embrapa Agrossilvipastoril. De acordo com Tardin, dependendo do nível de infestação, o pulgão da cana pode causar até perda total da lavoura de sorgo.
Conforme observação em experimentos realizados em Sinop, a praga tem atingido tanto materiais de sorgo granífero quanto silageiro, biomassa e sacarino. Porém, os danos têm sido diferentes conforme os materiais genéticos. Pesquisadores estão monitorando a população do inseto e os danos em diferentes materiais para identificar aqueles mais resistentes.
Com o atraso na semeadura e consequentemente na colheita da soja em muitas regiões produtoras, em razão de fatores climáticos, muitos produtores devem substituir o milho pelo sorgo na segunda safra. Com isso, a expectativa é que a área com a cultura cresça.
“O sorgo é uma cultura tão nobre quanto as outras. Muitos produtores talvez plantem esse cereal pela primeira vez. O que recomendamos é que se faça um bom plantio e o monitoramento da lavoura desde cedo. E, sabendo que a praga está no estado, faça o acompanhamento da ocorrência de pulgões na área”, alerta Flávio Tardin.
Como se trata de uma praga nova em lavouras de sorgo, ainda não há inseticidas registrados para o controle na cultura. Por esse motivo, o monitoramento é o principal aliado para evitar danos.
“É importante o produtor sempre monitorar a lavoura dele, para conseguir detectar quando esse pulgão está chegando e acompanhar a evolução da população. Não necessariamente essas populações irão avançar e crescer a ponto de causar prejuízo. Se chegar a uma situação com presença de mela nas folhas, justifica uma entrada de controle”, explica Rafael Pitta, pesquisador em Entomologia da Embrapa Agrossilvipastoril.
De acordo com Pitta, embora não haja inseticidas específicos para essa espécie de pulgão no sorgo, há outros produtos registrados que têm eficácia contra pulgões e podem servir como referência para os produtores. O pesquisador ressalta ainda a importância de acompanhar a ocorrência de inimigos naturais que auxiliam no controle, como joaninha, tesourinha e a fase larval da abelhinha do milho, conhecida em muitos locais como “mindinho”. Há ainda microvespas que ovopositam no pulgão, causando a morte da praga.
Outro alerta que o entomologista faz é na identificação da praga, uma vez que pode haver confusão entre o pulgão e seu exoesqueleto. “Às vezes o produtor confunde e acha que está com infestação elevada, mas não está. O pulgão é o inseto amarelo. Os pontos brancos que geralmente ficam grudados na folha em volta são os esqueletos externos do inseto que ele deixa na medida em que vai crescendo”, explica Rafael Pitta.
As informações foram divulgadas pela assessoria de imprensa da Embrapa Agrossilvipastoril.