Discutir o futuro da carne requer um olhar atento ao que já está sendo produzido até o momento. Este foi o viés que guiou o primeiro “Painel da Carne” realizado pela Parecis SuperAgro, feira de agrotecnologia que será encerrada hoje, em Campo Novo do Parecis (a 420 km de Cuiabá). O painel da carne trouxe como tema a “Realidade Atual e Mercado Futuro”, nesta terça-feira.
De acordo com o diretor executivo da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, o sucesso da pecuária mato-grossense passa pela integração lavoura-pecuária [e floresta]. Contudo, disse, é preciso reverter o conceito de pecuarista e deixar claro que não se trata de um sujeito que “vende boi. E sim, que produz carne”.
Vacari complementa que a pecuária de corte está em todos os municípios do Estado. Da mesma forma, vale ressaltar que se a média mundial de “carcaça” é de 256 kg, Mato Grosso figura em 4º lugar com 265 kg. “A tecnologia contribuiu para este quadro com o melhoramento genético, reforma de pastagem, técnicas de manejo, entre tantas outras mais. A ideia é chegar ao ponto que as pessoas cheguem no mercado e não peçam apenas ‘1kg de carne’ e sim, ‘1kg de carne de Mato Grosso’”, reforça.
Pensamento reiterado pelo pesquisador Flávio Dutra Resende, que enfatizou que é preciso produzir mais e achar mercados para este consumo. No entanto, é necessário compreender o que estamos produzindo para que sejamos classificados como uma carne extremamente forte e com o mercado em potencial. “Precisamos melhorar a produtividade”, contextualiza Resende.
Segundo o presidente do Instituto Mato-grossense de Carne (Imac), Wagner Bacchi, Mato Grosso apresenta o maior rebanho comercial do país. “O Estado é pioneiro no Brasil a contar com o IMAC e o sexto lugar no mundo a ter este selo de qualidade. Isto promove a carne com qualidade e segurança ao consumidor. Aliás, precisamos promover reflexões sobre o tema agora, pois o mercado de carne no mundo está previsto para aumentar em 70% até 2050. Saber aplicar as tecnologias que já temos hoje é o caminho para o futuro”, pontua.
Já o analista e consultor de mercado Alcides Torres, mediador do painel, reforça que o progresso salta aos nossos olhos. “A pecuária é uma alternativa excelente. Ela traz consigo características maravilhosas. Apesar dos altos e baixos que o setor passa, ele é o setor que mais dá segurança ao longo dos anos”, comenta.
“Não tem os mesmos problemas da soja, por exemplo. Você não perde. Você vende e cria estoque. É como uma poupança, que no final rende. É hora de pensarmos em projetos que potencializem a produção. Pensar na ‘safra do boi”, complementa o pecuarista Fernando Giacomet.
Na ocasião, um projeto de terceira safra com pecuária de corte foi apresentado ao público por meio do veterinário Zeno Albert, que alertou sobre o foco em cruzamento industrial e as suas vantagens.
“A pecuária deve se preocupar com o tripé da sustentabilidade – que, por si só, nada mais é do que tudo aquilo que perdura no tempo. Entre seus principais pontos estão o fato de ser economicamente viável, socialmente justa e ‘mentalmente’ correta”, alerta o pesquisador da Embrapa Sérgio Raposo de Medeiros durante a palestra “Eficiência Nutricional: Chave para a Produção Sustentável da Carne Bovina”.
Para Medeiros, é preciso ficar atento também ao fato de que o consumidor é um fator essencial neste setor – tendo em vista questões como a preocupação com o bem-estar animal (BEA). “Muitas vezes, as pessoas não querem ter essas informações. Mas, hoje esta é a primeira preocupação que surge – além de fatores como saúde (gordura saturada e colesterol), bem como questões ambientais”, reflete.