Assim como no ano passado, em 2017, o setor pecuário brasileiro terá como principal desafio a demanda doméstica por carne bovina, segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. O ritmo lento de crescimento do Brasil projetado para este ano, especialmente até a metade de 2017, deve manter enfraquecido o poder de compra do consumidor.
Esse contexto e a expectativa de aumento da oferta podem pressionar as cotações em todos os elos da cadeia ao longo de 2017. O BC (Banco Central) prevê crescimento de 0,5% no PIB para este ano. Uma modificação deste cenário pode vir do mercado externo, que, neste caso, dependerá da movimentação do câmbio, previsto pelo BC em R$ 3,48.
A oferta de animais para reposição, por sua vez, tende a iniciar uma recuperação em 2017, devido à diminuição no número de abate de matrizes nos últimos anos, o que pode limitar altas nos preços neste segmento. Dados do IBGE indicam que, desde 2013, o abate de fêmeas em relação ao total se reduziu de 42,04% para 39% em 2015 – na parcial de 2016 (até o terceiro trimestre), o abate de fêmeas representou 39,3% do total.
Para o primeiro trimestre do ano, espera-se também maior oferta de animais prontos para abate, relacionado à redução no número de lotes em confinamento em 2016. Segundo o IBGE, o volume de animais abatidos no terceiro trimestre de 2016, período em que boi gordo sai do confinamento, foi 3,5% inferior ao do mesmo período de 2015. Para os trimestres subsequentes, a maior oferta de boi magro e a pressão nos custos de produção podem manter crescente a oferta de boi gordo.
Esse cenário de possível demanda interna enfraquecida e de aumento na oferta de animais para abate, por sua vez, pode resultar em queda real de preço em todos os elos da cadeia – cenário observado em 2016. Caso os valores subam, o movimento deve ficar abaixo da inflação esperada para 2017, de 5,13%, de acordo com o BC. Quanto aos custos, em todas as etapas da produção da bovinocultura de corte, devem dar uma trégua neste ano, oscilando abaixo da inflação.
Projeções do USDA e do FMI indicam crescimento mundial de 2,8% em 2017. A Europa deve seguir em recuperação, ainda que a crise de alguns bancos europeus traga alguma preocupação. Quanto aos EUA, o setor brasileiro teme que o novo presidente norte-americano realize medidas que limitem avanços já adquiridos para a pecuária brasileira, como a abertura do mercado daquele país para a carne bovina in natura. A Ásia é a grande aposta para a carne bovina brasileira – a China adquiriu grandes volumes em 2016. Além disso, as exportações australianas podem se reduzir mais, abrindo espaço para a carne brasileira.
Em todas as etapas da produção da bovinocultura de corte, os custos devem dar uma trégua neste ano ou oscilar abaixo da inflação. Ponderando-se todos os sistemas produtivos, os itens que mais pesam no custo (COE – Custo Operacional Efetivo, ou seja, sem considerar a depreciação), de acordo com levantamento realizado pelo Cepea em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), são a compra de animais, que representam 55% dos custos, a suplementação mineral, em torno de 12%, a mão de obra, com 11,7%, gastos administrativos, com 3,4%, e a dieta, 3,1%.
Fonte: Cepea