Fabricantes de vacina contra a febre aftosa no Brasil aceitaram fazer alterações na composição e volume de dose de imunização da vacina, atendendo demanda da cadeia produtiva, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), entidade que reúne essas empresas. As mudanças, em três etapas, deverão começar já no próximo mês e serão concluídas até novembro de 2018.
As mudanças na vacina foram solicitadas em documento que seis entidades do agronegócio encaminharam no dia 10 deste mês ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O próprio ministério atribuiu a decisão do governo norte-americano de suspender a importação de carne brasileira à existência de abcesso causado pela aplicação da vacina contra a aftosa e determinou a exportação de carne fatiada para contornar o problema.
A primeira mudança, de acordo com o sindicato dos fabricantes, já vai ocorrer no próximo mês: o início da fabricação de vacina contra aftosa bivalente (vírus O 1 e A24), com a retirada do vírus C, já erradicado do Brasil. Já a partir de maio de 2018, a indústria passará a produzir vacina com 2 mililitros (ml), em substituição à atual, de 5 ml. Além disso, os fabricantes iniciaram o processo de retirada do adjuvante saponina, da composição da nova vacina, que estará disponível na campanha oficial de vacinação de novembro de 2018.
A retirada da saponina estava entre as alterações solicitadas pelo agronegócio. As instituições relacionam a substância “à exacerbada irritação no local da aplicação, que se agrava até casos de edema e severa reação inflamatória, com consequente ocorrência de abscessos [nódulo inchado cheio de pus]”. A existência de abcesso em carne brasileira teria sido um dos motivos de suspensão das importações anunciadas em 22 de junho passado pelo governo norte-americano.
Além do documento enviado ao Mapa, os produtores e de entidades representativas do setor agropecuário também se reuniram com as indústrias fabricantes. “Houve uma reunião na semana passada na qual foi reafirmado pelos produtores e pela indústria a necessidade de alterações no processo de produção da vacina, na dose e via da forma de aplicação”, diz o consultor de Defesa Sanitária da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Décio Coutinho.
O anúncio da nova vacina ocorreu durante a 6ª Reunião Extraordinária da Comissão Sul-Americana para a Luta contra a Febre Aftosa (Cosalfa), realizada em Brasília, nos dias 20 e 21 de julho de 2017.
Também na reunião, foi decidida a criação de um banco de antígenos e vacinas contra a febre aftosa na América Latina. O Brasil é o primeiro país da região a aderir oficialmente à iniciativa. “Essa é uma ferramenta fundamental para iniciar o processo de retirada de vacinação da aftosa em qualquer país das Américas. É um instrumento que os países precisam ter em suas mãos a partir do momento que fizerem a retirada da vacina de febre aftosa”, diz Coutinho. O banco permitirá enfrentamento de problemas que podem surgir com a retirada da vacina no Brasil, além de contribuir para aquelas nações que não tenham, à disposição, doses do produto em quantidade suficiente para imunizar seus rebanhos.
O vírus da febre aftosa é altamente contagioso. O animal afetado apresenta febre alta que diminui após dois a três dias. Em seguida, aparecem pequenas bolhas que se rompem, causando ferimento. O animal deixa de andar e comer e, no caso de bezerros e animais mais novos, pode até morrer. A transmissão pode ocorrer por meio da ingestão de água e alimentos que estejam contaminados pela saliva de animais doentes. O vírus é resistente, podendo sobreviver durante meses em carcaças congeladas. Segundo o Mapa, o Brasil é um país livre da febre aftosa com vacinação.
Os representantes dos países que compõem a Cosalfa aprovaram ainda resoluções para apoiar a Colômbia na erradicação de quatro focos de aftosa detectados recentemente e para realizar uma ação integrada entre o Brasil e a Colômbia na Venezuela. O objetivo é apoiar os venezuelanos a imunizar e inspecionar o rebanho bovino contra aftosa e fazer exames sorológicos. A Venezuela ainda não é livre da doença e está disposta a receber a ajuda, acrescentou Marques.
Erradicação da aftosa
A previsão é de que todo o Brasil seja reconhecido como país livre de febre aftosa sem vacinação pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) em 2023, como já ocorre com a área de Santa Catarina. “Isso trará uma mudança muito grande para o Brasil na questão do mercado internacional”, disse o ministro Blairo Maggi, em entrevista na semana passada. “A partir do momento em que o Brasil estiver livre, o mundo se abre. Podemos começar a exportar carne com osso, produtos que não fazemos hoje. É de interesse do governo brasileiro, da pecuária, da sociedade”.
A Cosalfa foi criada em 1972, durante a V Reunião Interamericana de Nível Ministerial sobre o Controle da Febre Aftosa e Outras Zoonoses (RICAZ V). O objetivo da comissão é avaliar o andamento dos programas nacionais de controle e erradicação da febre aftosa na América do Sul, garantindo a integração regional das ações de intervenção. Os 13 países-membros são Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Panamá, Paraguai, Peru, Suriname, Venezuela e Uruguai.