O preço da arroba do boi caiu 4,6% nos últimos 30 dias e comparando abril do passado com abril deste ano, a queda é de 10,6%, passando de R$ 136,8 para R$ 122,27, de acordo com índice do Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada (Cepea) para Cuiabá. A queda, porém, não decorre da demanda. Diferente do que era esperado, o consumo de carne em Mato Grosso não oscilou no último mês, mantendo o preço médio do quilograma estabilizado em R$ 21,10, com pequena variação de 0,4% entre março e abril, e as exportações registraram aumento de 8,4% nos embarques na comparação entre março de 2016 e de 2017.
De acordo com a assessoria da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), a desvalorização da arroba do boi gordo é consequência da paralisação de sete plantas frigoríficas no Estado. Estão suspensos os abates nas unidades do JBS em Juína, Alta Floresta, Pedra Preta e Diamantino, do Marfrig em Tangará da Serra, do Minerva em Várzea Grande e do Frialto de Matupá.
Todas essas empresas alegaram que com a Operação Carne Fraca, desencadeada pela Polícia Federal no dia 17 de março, e o fechamento temporário de alguns mercados externos, a indústria precisou readequar seus estoques e, por isso, concedeu férias coletivas. A decisão dos frigoríficos é vista pelo setor produtivo como uma estratégia de mercado para manipulação de preços.
O diretor-executivo da Acrimat, Luciano Vacari, explica que esta manobra fica mais evidente ao comparar o movimento dos preços no campo com o varejo. “Mais uma vez, o pecuarista paga sozinho a conta e o consumidor final não sente os reflexos efetivos da queda no preço da arroba. A demanda interna se manteve e as exportações em março não foram prejudicadas com as oscilações de mercado. Mesmo assim, a arroba caiu mais de 10%”.
O proprietário da casa de carnes Martins, em Cuiabá, João Batista Mendes Fortes, afirma que o consumo de carne aumentou 20% nos últimos 30 dias, o que considera uma raridade devido à Quaresma. “Geralmente o consumo cai neste período do ano, mas aqui as vendas cresceram. Acredito que o consumidor está preferindo comprar carne fresca a carne processada ou embalada”.
Para o pecuarista, os números do mercado não batem com o valor oferecido pelo seu produto. Raphael Nogueira, de Castanheira, explica que na região os pecuaristas possuem poucas opções para venda e com a paralisação dos abates em Juína a situação se agravou ainda mais. “Hoje a melhor opção é Tangará da Serra e com isso o preço caiu bastante. A arroba do boi aqui já está R$ 121, R$ 4 a menos do que estavam pagando no começo dessa crise”.
A Polícia Federal desencadeou uma operação, denominada Carne Fraca, no dia 17 de março em consequência de investigações sobre fraudes cometidas por frigorífico e agentes públicos de fiscalização. As suspeitas sobre o sistema de fiscalização e inspeção federal atingiram o mercado internacional da carne e alguns consumidores como China, União Europeia e Hong Kong, suspenderam a compra de mercadoria do Brasil.
Com o trabalho de esclarecimento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), e a intensificação da fiscalização e interdição de plantas sob suspeita de problemas sanitários, o país recuperou alguns mercados rapidamente e o impacto na balança comercial foi reduzido consideravelmente.
Segundo o Ministério da Agricultura, Jamaica, Israel, Egito, Coreia do Sul, Jordânia, Kwait, Hong Kong, Austrália e Paraguai reabriram o mercado. Outros 32 países mantêm suspensões parciais ou aumentaram a inspeção dos produtos brasileiros. Nesse grupo aparecem China, Argentina, Estados Unidos e Emirados Árabes.