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A safra de soja do Brasil na temporada 2016/17 caminha até o momento para atingir um recorde superior a 100 milhões de toneladas, por condições climáticas favoráveis, mas muitos agricultores que se preparam para ligar as colheitadeiras nos próximos dias têm uma preocupação: chuvas em excesso em janeiro.
Com um plantio acelerado neste ano, um maior volume de soja do país, o principal exportador da oleaginosa do mundo, estará pronto para colheita no próximo mês, em período em que as precipitações tradicionalmente são intensas, especialmente nos Estados do Centro-Oeste, que respondem por quase metade da produção nacional.
Chuvas em excesso na colheita podem prejudicar a qualidade do grão, resultando em descontos nos preços pagos aos produtores, além de acentuar os gargalos logísticos e prejudicar o transporte do produto em estradas rurais.
“Em anos em que se planta muito rápido, a colheita pode pegar mais chuva. A safra está assegurada, em Mato Grosso está pronta. Mas nesses próximos 30 dias será muito grande a pressão sobre máquinas e equipamentos para tentar tirar a soja do campo, porque vem chuva aí”, afirmou à Reuters o analista da consultoria AgRural Fernando Muraro.
A Somar Meteorologia afirmou nesta sexta-feira que são esperados entre 30 e 45 milímetros de chuvas nos próximos dias no Sul do país, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e sul de Goiás, e que a distribuição das precipitações permanecerá inalterada até meados da próxima semana.
A partir de quarta-feira, acrescentou a Somar em relatório, “a chuva forte migrará na direção de Minas Gerais, Goiás e Piauí, além de permanecer sobre Mato Grosso, Rondônia, Pará e Tocantins”. “Em janeiro tem chuva o mês inteiro, é isso que preocupa”, acrescentou o analista da AgRural, comentando sobre o Mato Grosso, maior produtor brasileiro, que colhe cerca de 30 por cento da soja do país.
Diante do plantio mais rápido neste ano, a consultoria estima que o Mato Grosso poderia colher mais de 7 milhões de toneladas do grão até o final de janeiro, ou até 25 por cento da produção estadual, ante cerca de 2 milhões de toneladas no mesmo período da safra passada.
Isso em condições relativamente normais. Pois, quando se trata de Mato Grosso, é preciso ser “cuidadoso” em usar as palavras “colheita” e “janeiro” na mesma frase, segundo o analista da AgRural, porque muita chuva pode ser sempre um problema.
O analista lembrou que em anos de plantio antecipado a colheita já foi prejudicada em janeiro por chuvas nas safras 2009/10 e 2011/12.
Se isso se repetir, poderia frustrar planos de grandes tradings multinacionais que atuam no setor, que eventualmente fecharam negócios para exportação logo no início do ano. Baseado no plantio antecipado, muitos agentes esperam uma temporada de exportação também precoce em 2017.
Do lado do produtor, a umidade em excesso na colheita também preocupa, porque o setor veio de quebras de safras de soja e milho pela seca na temporada anterior e não pode se dar ao luxo de perder duas ou três sacas neste verão ou sofrer descontos em função da chuva.
Havia expectativa de que muitos produtores que plantaram mais cedo em Mato Grosso passassem o Natal colhendo soja este ano, mas chuvas em algumas regiões do Estado, como o oeste –onde uma parcela maior de lavouras está mais madura–, podem ter levado muitos a deixar o trabalho para o início de 2017.
“A única área que sei que começou colheita esta semana… Está chovendo bastante, na minha área já deu 600 milímetros de chuva (no mês)”, afirmou o presidente Sindicato Rural de Sapezal, José Guarino Fernandes, vice-presidente da associação estadual Aprosoja para a região oeste.
Ele contou que em meados do mês a região registrou cerca de dez dias de tempo fechado; a chuva deu trégua por alguns dias, mas nesta semana as precipitações voltaram.
Situação semelhante também é verificada em outro município da região oeste de Mato Grosso, em Campo Novo do Parecis, relatou a presidente do sindicato rural da cidade, Giovana Velke. “Sei de um produtor (que começou a colheita)… Semana passada choveu bastante… O resto (da colheita de soja) vai ser na virada, principalmente aquele produtor que vai fazer segunda safra de algodão”, disse Velke. “Vi bastante lavoura com soja amarela, o produtor dessecou para fazer a colheita na semana que vem.”
Fonte: Reuters (foto: assessoria/Embrapa/arquivo)