A demanda por mão de obra a cada nova safra agrícola é cíclica como as estações climáticas. Com o plantio e colheita da soja, milho e algodão em Mato Grosso, as admissões extras nas fazendas aumentam, concentradas nesse período do ano. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), reunidos pelo Ministério do Trabalho, ilustram bem essa repetição das contratações adicionais nos primeiros meses e dispensa de trabalhadores no final do ciclo agrícola.
Na última safra, logo no início da colheita da soja, foram criadas 7,396 mil novas vagas de emprego no campo. Esse saldo de emprego registrado em janeiro de 2017 é bem diferente da situação verificada em novembro do mesmo ano. No penúltimo mês de 2017 as demissões superaram as contratações e o saldo de emprego na agropecuária ficou negativo em 3,185 mil vagas. Em janeiro o produtor rural de Mato Grosso concentra esforços para colher a safra de soja. Na sequência, prepara a 2ª safra agrícola, geralmente algodão e milho. “Até os meses de julho e agosto o trabalho é muito intenso nas propriedades”, comenta o superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) em Mato Grosso, Otávio Celidôneo.
Segundo ele, nas fazendas destinadas ao cultivo do algodão, a demanda por mão de obra é ainda maior. O cotonicultor emprega o dobro de colaboradores que o sojicultor, compara o presidente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), Alexandre Schenkel. “Atualmente todo associado da Ampa investe na produção de soja. Mas, enquanto uma unidade produtora de algodão conta com um colaborador para cada 150 hectares, na soja a relação é de um colaborador para cada 300 hectares”, afirma.
Estudo realizado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) revela que a cada dezena de empregos diretos gerados nas propriedades de algodão são estimulados um emprego indireto e 6 empregos induzidos. Conforme registra Schenkel, desde o início da safra de algodão há grande demanda por mão de obra, que se intensifica na época da colheita, momento importante para manter a qualidade da fibra. A etapa com maior utilização de colaboradores é a do beneficiamento, processo que pode ser realizado na fazenda ou em algodoeiras terceirizadas.
Vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Fernando Cadore observa que a colheita da soja se intensifica em fevereiro e, neste ano, o plantio do milho de 2ª safra poderá avançar até março, em função do atraso no plantio da 1ª safra. “Houve atraso na janela de semeadura ideal da soja e isso afeta o plantio do milho, que com certeza terá redução de área. Por isso acredito que vai baixar os investimentos nas lavouras”.
Por consequência, as contratações sazonais nas propriedades rurais em 2018 poderão ser inferiores àquelas da última safra, conjectura o superintendente do Senar. Além disso, a produção de grãos na safra 2017/2018 está projetada em volume ligeiramente inferior ao do último ciclo. Enquanto na safra passada foram colhidas 61,986 milhões de toneladas de grãos, para o ciclo atual a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta 60,778 milhões/t.
Ainda assim, os primeiros meses de cada ano lideram as contratações no campo. “Na agricultura existe uma demanda sazonal por mão de obra, concentrada nesse período, porque a safra de soja culmina em 3 operações, que é o plantio, a colheita e o transporte. Isso sempre será assim e não vai mudar”, conclui Cadore.
Para ele, um fator que pode impactar as contratações no campo é a automatização dos processos, com a presença de máquinas agrícolas cada vez avançadas. “A quantidade de pessoal empregado já foi maior e tende a reduzir. Isso também se deu em função dos entraves da legislação trabalhista. A reforma trabalhista veio tarde e o mercado se condicionou a empregar mais máquinas e reduzir a presença humana”, avalia o vice-presidente da Aprosoja.
Na fazenda administrada pela engenheira agrônoma Luana Belusso, 28, são mantidos 11 funcionários fixos. Nessa época do ano, com a colheita da soja e sucessivo plantio da 2ª safra – milho, feijão e algodão – são necessários mais 5 colaboradores, explica a gestora da propriedade, localizada em Nova Ubiratã. O município distante 502 quilômetros a médio-norte de Cuiabá está situado numa das principais regiões produtoras de grãos de Mato Grosso.
Na propriedade de 2,5 mil hectares, dos quais 600 estão arrendados, a agricultura é predominante. A intenção da família Belusso é diversificar a produção na propriedade para ampliar a renda. Atualmente o gado existente na fazenda é mantido apenas para consumo interno. A implantação da piscicultura está em estágio inicial e precisa ser aprimorada, relata a engenheira agrônoma. A família pretende, ainda, investir na suinocultura e no confinamento. Ao atingir a meta, será necessário empregar mais pessoal.
Para a administradora, a necessidade de garantir mão de obra qualificada nas propriedades nos períodos de plantio e colheita é proeminente. “Precisamos de pessoas pra operar as colheitadeiras e caminhões. A tecnologia está aí, implantada na área agrícola, principalmente nas máquinas e implementos, como pilotos automáticos nas colheitadeiras, mapas de produção, sensores nas plantadeiras”, exemplifica a engenheira agrônoma.
Segundo ela, é difícil encontrar mão de obra realmente qualificada, já que a maioria dos colaboradores da fazenda sequer concluiu o Ensino Médio. “O conhecimento que eles possuem é a prática dentro da fazenda. Alguns não querem e não gostam de fazer cursos profissionalizantes e por isso não procuram se especializar na profissão”, expõe. Para contornar essa barreira, os produtores rurais saem em busca de mão de obra qualificada e contratam pessoal de outras regiões do país, especialmente do Sul do Brasil.