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Uma noite vienense no Oriente

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"Entenda como viver, como estar em harmonia, como estar em equilíbrio, como estar em sintonia. Uma vez que você compreende como estar em sintonia, a vida se torna uma dança". Kiran Kanakia

"A vida é uma dança! Se você está saindo da dança, é por sua conta. A vida lhe dá a liberdade de estar no ritmo da dança ou de sair do ritmo. A escolha é sua. Se você sair da dança, claro que vai se sentir mal recebido em todo lugar. A verdade pura e simples é que você não está em harmonia com o Todo – é uma decisão sua. O Todo está sempre pronto para lhe dar as boas-vindas; o Todo se importa com você". Osho

Há algum tempo, tive o prazer de assistir em Brasília a apresentação da Orquestra Johann Strauss Capelle de Viena. Um concerto que me emocionou e reavivou a lembrança de uma certa noite no Oriente, no ashram do Mestre Osho, em Poona.

Osho foi um Mestre Espiritual indiano contemporâneo considerado um gênio, de inteligência extraordinária e com um conhecimento geral impressionante! Ele orientava os discípulos para que não dividissem a vida em material e espiritual, pois a vida é uma só. Que procurássemos, por exemplo, viver o nosso lado Buda e o Zorba, sem conflitos, sem divisões, buscando o equilíbrio entre ambos. Nem só Buda, nem só Zorba, mas integrando essas polaridades – o mundo interno e o mundo externo. Todavia, houve muitos mal-entendidos e distorções dos seus ensinamentos, inclusive pelos próprios discípulos e seguidores, aliás, como ocorre com todos os grandes Mestres da humanidade.

E uma das mensagens mais fortes que Osho nos deixou é: a Vida é uma Celebração! Ele procurou de todas as maneiras nos conscientizar dessa verdade. Hoje, sei que a alegria e a gratidão em nossos corações é uma prece de imenso valor que ofertamos à Existência. Meu pai dizia que "a reclamação ofende a vida". Isso não quer dizer que devamos fugir das dores e tristezas quando as mudanças acontecem e elas se fazem presentes. Mas tudo passa, não é mesmo? Se não permanecermos identificados com os problemas, no devido tempo eles serão resolvidos com soluções ofertadas pela própria vida, deixando-nos, ainda, aprendizados riquíssimos.

Havia várias celebrações no ashram (escola espiritual) de Osho, em Poona. E, geralmente, com muita música e dança. Na década de 1990, estive lá e participei de momentos fantásticos! Que me fizeram sentir viva, de fato vibrante, com todas as minhas células banhadas pelo gosto de viver e celebrar a vida sem nenhuma razão específica e, ao mesmo tempo, por inúmeros motivos que não são entendidos pela mente lógica. Mas, atualmente, depois de anos da partida do Mestre, tudo ficou bastante diferente e, nas minhas últimas viagens à Índia, não voltei mais lá.

Quando retornei ao Ocidente após a minha primeira viagem à Índia, trouxe em minha bagagem essa nova visão que as vivências na Osho Internacional Multiversity me proporcionaram e, naturalmente, a beleza, o colorido e o brilho dos tecidos indianos, as estátuas de Buda e Ganesh, os incensos, os atraentes adornos femininos orientais e as famosas especiarias.

Uma das celebrações de que participei foi "Uma Noite de Valsas". Meus Deus! Foi uma noite linda, inesquecível! Esse foi um dos momentos de que não dá para eu me esquecer ou apagar da minha memória. Aquela noite vienense no Oriente transformou-se numa rica vivência. Foi realizada num imenso salão de estrutura arquitetônica arredondada, que comportava mais de 10.000 pessoas. O piso era de mármore branco – o branco que sintetiza todas as cores, o branco da paz. Lá, estavam reunidas pessoas oriundas dos diversos continentes convivendo pacificamente – europeus, asiáticos, euro-asiáticos, sul-americanos, norte-americanos, enfim, gente do mundo inteiro.

A música começou e todos deram início aos primeiros passos. O importante era soltar o corpo e deixar-se levar pelo ritmo das valsas, sem se atrelar a nenhuma técnica. O estímulo era para a dança se originar de dentro do corpo, sem nenhum julgamento de certo ou errado. Os ouvidos recebiam com extrema satisfação as imortais composições de Johann Strauss II, que glorificavam a alegria de viver e marcaram uma época: Danúbio Azul, Vozes da Primavera, a Valsa do Imperador, Contos dos Bosques de Viena, O Lago dos Cisnes, A Valsa das Flores, entre outras.

Que experiência maravilhosa foi dançar tantas valsas numa noite só e interagir com participantes de diversas nacionalidades, de diferentes expressões! Ninguém precisava esperar pelo outro para dançar. As pessoas tinham a liberdade de dançar sozinhas, em pares, em rodas como as danças circulares, enfim, do jeito que quisessem. O corpo se entregava com liberdade plena ao ritmo das valsas vienenses e à magia reinante naquele salão chamado de Buda Hall. Na face das pessoas, a estampa da celebração e da inocência de um Buda, que só mesmo a alegria contagiante de um Zorba poderia fazer acontecer.

Os participantes se encontravam por acaso, olhavam-se, sorriam e um leve gesto da parte do cavalheiro para a dama reforçava o convite (já feito pelo olhar) para dançarem juntos. Os encontros aconteciam mais no campo da energia de cada um do que pela motivação da aparência física. Os bailarinos dançavam até que o corpo pedisse para parar. Soltavam-se naturalmente um do outro, agradeciam e, novamente, acontecia um novo encontro sem nenhum apego, sem outro interesse que não fosse o prazer de compartilhar a dança, a energia e o êxtase daquele momento, movido por músicas atemporais, que atravessaram épocas e fronteiras.

Não tive mais a oportunidade de dançar valsas com a totalidade de um Buda e o êxtase de um Zorba como naquela encantadora noite em Poona. Até hoje, ao me lembrar, sinto a celebração da divina música de Johann Strauss II, considerado o Rei da Valsa. No ar, o convite para dançar a eterna sinfonia da vida ao som de uma Valsa Vienense, seja no Oriente ou no Ocidente.

Namastê!

Enildes Corrêa é Administradora e Terapeuta Corporal Ayurveda. Prof. de Yoga. Autora de Vida em Palavras – coletânea de crônicas. E-mail: [email protected]

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